A audição é a chave para a aprendizagem da fala e da linguagem e, consequentemente, para o desenvolvimento cognitivo social e emocional das crianças.
Muitas das causas responsáveis pela surdez, em crianças, podem ser prevenidas. Sem intervenções adequadas, a surdez pode ter consequências, levando a sentimentos de tristeza e solidão e, até, à depressão. É, assim, importante garantir que todos os casos de surdez inevitável possam atingir o seu potencial, por meio da reabilitação.
As causas mais comuns da surdez na criança são:
• Genéticas (cerca de 40%) e hereditárias.
• Infeções congénitas ou consumo de álcool durante a gravidez.
• Infeções do ouvido médio e outras, na criança.
• Drogas ototóxicas, como por exemplo, alguns antibióticos e diuréticos prejudiciais ao sistema auditivo.
Os fatores de risco em recém-nascidos incluem:
• História familiar de surdez.
• Baixo peso ao nascer.
• Índice de Apgar < 5 em 1 minuto ou < 7 em 5 minutos, após o nascimento.
• Doenças do grupo TORCH e outras infeções.
• Níveis baixos de oxigénio no sangue, ou convulsões associadas ao parto.
• Anomalias do crânio ou face, especialmente aquelas que envolvem o ouvido externo.
• Alto nível de bilirrubina no sangue.
• Ruído proveniente dos ventiladores, nas incubadoras.
O impacto da surdez na criança depende de uma série de fatores:
• Idade de início – As crianças desenvolvem a linguagem nos primeiros anos de vida. O impacto da surdez é maior se esta ocorre ao nascimento, ou se desenvolve logo após o mesmo.
• Grau de surdez – O grau pode variar de ligeiro a profundo. Quanto maior o grau, maior o impacto.
• Idade de identificação e de intervenção – Quanto mais cedo se diagnosticar a surdez na criança, mais cedo recebe apoio, aumentando a possibilidade de aprendizagem da linguagem recetiva e expressiva.
O “Joint Committee on Infant Hearing” (JCIH) emite diretrizes para garantir a identificação e intervenção precoces relacionadas com a audição. Estas diretrizes, de outubro de 2019, sugerem que todas as crianças devem ser rastreadas até 1º mês de vida, que o diagnóstico deve ser feito até aos 2 meses e, no caso de existir surdez, deve haver uma intervenção até aos 3 meses.
• Ambiente – O acesso à tecnologia auditiva, terapia da fala e atividades sociais adaptadas influencia, significativamente, o desenvolvimento da criança com surdez. As escolas também podem desempenhar um papel importante na prevenção da surdez através de rastreios auditivos.
• Aconselhamento genético – Entre as causas genéticas de surdez, a consanguinidade parental é um importante fator de risco a considerar.
• Aconselhamento médico pré-natal. Deve haver orientação quanto à nutrição e tratamento médico de eventuais doenças da mãe, que possam estar na origem de surdez na gestação, parto e período neonatal.
• Melhoria dos cuidados, particularmente durante o parto, reduzindo e tratando complicações como a asfixia, por exemplo.
• Identificar e evitar medicamentos e drogas ototóxicas, durante a gestação.
• Vacinação adequada, da mãe e da criança.
Uma avaliação audiológica cuidada permite detetar a gravidade de qualquer surdez, mesmo em crianças não cooperantes, fornecendo estratégias de habilitação ou reabilitação auditiva.
A surdez pode desenvolver-se progressivamente ao longo do tempo, como consequência de infeções ou resultado de doença genética. Por isso, recomenda-se atenção aos marcos críticos do desenvolvimento da criança, para se atuar em tempo útil.
Avanços recentes na triagem auditiva neonatal, na tecnologia auditiva (como próteses auditivas e implantes cocleares) e nas terapias de reabilitação contribuem para o desenvolvimento da linguagem, favorecendo um melhor desenvolvimento e adaptação da criança.