Mais uma história – Consumo de Álcool na Gravidez!

Na gravidez, tal como na nutrição e alimentação em geral, ouvem-se muitas opiniões, muitos dados adquiridos, histórias contadas pelas mães, avós, amigas, histórias que, por muita pesquisa que façamos, não encontramos fundamento científico na maioria.

Numa destas histórias afirma-se que durante a gravidez, a ingestão de 1 copo de vinho tinto por dia ou 1 cerveja preta, ajudaria no crescimento e desenvolvimento do bebé.

Segundo a European Alcohol Policy Alliance (EUROCARE), estima‐se que cerca de 5 milhões de europeus nasçam com anomalias e perturbações do desenvolvimento associadas ao consumo de álcool na gravidez, sendo esta a principal causa na Europa para estes problemas.

Apesar da escassez de dados em Portugal sobre o consumo de substâncias psicoactivas durante a gravidez, e por outro lado as estatísticas sobre a natalidade em Portugal, em 2012, as prevalências do consumo de bebidas alcoólicas no último ano entre as mulheres portuguesas eram de 50% nos 25‐34 anos e de 54% nos 35‐44 anos, e o consumo de substâncias ilícitas no último ano de 1,6% nos 25‐34 anos e de 0,4% nos 35‐44 anos. De acordo com o American Disease Control and Prevention Center, entre 2006 e 2010 , 7,6% das gestantes ingeriram muito álcool e 1,4 % admitiram que consumiram álcool no mês anterior à entrevista .

Muitas mulheres não estão cientes do facto de que, mesmo pequenas quantidades, o consumo de álcool durante a gravidez pode interferir no desenvolvimento normal do feto. Os dados obtidos a partir de Estudos Americanos para a prevenção de doenças congénitas, em 4.088 mulheres que deram à luz recém-nascidos saudáveis entre 1997 e 2002 mostrou que, 30,3% reconheceram que ingeriram álcool em algum momento durante a gravidez, das quais 8,3% fez binge drinking ou consumo de “fim-de-semana”.

O álcool ingerido pela mulher grávida, consegue facilmente atingir a placenta e chegar ao feto através do cordão umbilical. As consequências desta passagem são várias:

  • atraso no crescimento antes e depois de nascer, o que implica que estes bebés têm tamanho reduzido para a sua idade e baixo peso ao nascer comparativamente aos recém-nascidos não expostos ao álcool.
  • anomalia e malformação congénita – alterações nas funções do sistema nervoso, com problemas visuais e de audição, dificuldades de aprendizagem e atraso mental. Alterações no desenvolvimento da linguagem e distúrbios de comportamento como, falta de atenção, hiperactividade e impulsividade.
  • malformação Craniana, como a diminuição do tamanho do perímetro cefálico.
  • outras malformações em órgãos e sistemas, no coração, rins ou ossos.

Não é mensurável a quantidade limite de álcool durante a gravidez nem a relação quantidade consumida vs gravidade das consequências no feto. Para além da quantidade consumida, outros factores podem ter influência, como os factores sociais, económicos e étnicos. A capacidade em metabolizar e eliminar o álcool pela grávida, pode influenciar a dimensão das sequelas no feto o que explica o facto de que as malformações não são comuns para mães que ingerem a mesma quantidade de álcool.

Referências: Ministério da Saúde e Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências. Enquadramento epidemiológico – etapas do ciclo de vida, Gravidez e período neonatal, 2014. EUROCARE, European Alcohol Policy Alliance 2015; Esther Martín. Alcohol and pregnancy. Fundació Roger Torné, 2013. Disponível em: http://www.fundrogertorne.org/health-childhood-environmental/divulga/inspira-nuevo/2013/01/11/alcohol-and-pregnancy/.
Créditos da imagem: http://www.pregnancyview.com/rcog-changes-guidelines-on-alcohol-and-pregnancy-stay-away/

Marisa Figueiredo, nutricionista licenciada em Ciências da Nutrição e mestre em Nutrição Clínica, pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, iniciou atividade clínica em 2004. É doutoranda na Faculdade de Medicina de Lisboa no curso de Doenças Metabólicas e de Comportamento Alimentar. Desenvolve atividade docente desde 2007 e colabora frequentemente em ações de divulgação na promoção da saúde e prevenção das doenças crónicas. Dedica o seu trabalho à nutrição clínica, no adulto e na criança, com particular interesse pela alimentação e saúde infantil. Acredita que o seu trabalho deve assentar essencialmente na mudança de atitudes face a comportamentos que possam pôr em risco a saúde. A estratégia adoptada passa por fazer chegar a mensagem aos pais e seus educandos. A prevenção começa in útero. Colaboradora do Stop Cancer Portugal desde Janeiro de 2013. Por indicação do autor, os seus textos não obedecem ao novo acordo ortográfico.     Marisa Figueiredo is a nutritionist, graduated in Nutritional Sciences and has a Master degree in Clinical Nutrition of the Institute of Health Sciences Egas Moniz. Started her clinical activity in 2004. She is a PhD student in Metabolic Diseases and Feeding Behavior at the School of Medicine of Lisbon. Develops teaching activity since 2007 and collaborates frequently in actions and workshops for promoting health and preventing chronic diseases. His work is dedicated to clinical nutrition in adults and children, with particular interest in child´s health and nutrition. She believes that her work should be based on attitudes and behaviours’ changing and prevention begins in utero. Collaborates in Stop Cancer Portugal since January 2013.