As exostoses do canal auditivo externo são crescimentos ósseos benignos, de progressão lenta.
Ocorrem com maior frequência em surfistas, por exposição repetida à água fria, pelo que esta condição se denomina “ouvido de surfista”. Podem, no entanto, aparecer em nadadores, mergulhadores, canoístas e marinheiros.
A exposição frequente à água fria, ao longo do tempo, induz o crescimento ósseo. Embora este processo não seja bem conhecido, é comummente aceite que a exposição à água fria contribui para a vasodilatação do canal auditivo externo. O aumento desta tensão vascular está associado à inflamação que causa periostite. O processo inflamatório estimula a atividade dos osteoblastos, originando fibrose e ossificação, levando ao crescimento de novo osso.
A maioria das pessoas com exostoses não apresenta sintomas. No entanto, com o seu crescimento, torna-se mais difícil a drenagem da água para fora do ouvido, originando infeções recorrentes. O cerúmen também se acumula mais facilmente. Ambas as condições podem levar a sintomas, como: dor, sensação de plenitude aural, otorreia e otite externa. Normalmente, as exostoses ocorrem nos dois ouvidos.
Diagnóstico:
1) História do paciente
Deve incluir o número de anos de exposição repetitiva à água fria. Alguns estudos sugerem um mínimo de 5 anos de exposição, antes que se desenvolvam exostoses significativas, enquanto outros sugerem 10 anos. A exposição à água mais fria do que 19°C leva ao desenvolvimento mais frequente de exostoses. Existe uma correlação direta entre os anos de exposição e a gravidade da obstrução do canal auditivo externo.
2) Otoscopia
As exostoses geralmente são múltiplas e bilaterais. Embora a sua posição dentro do canal possa variar, as lesões mais comuns são medial e ântero-superior.
A gravidade das exostoses é graduada de 1 a 3, com base na oclusão do canal observada no exame físico. Menos de 33% de oclusão é leve (grau 1), 33% a 66% de oclusão é moderada (grau 2) e mais de 66% de oclusão é considerada grave (grau 3).
Se forem observadas massas no canal auditivo externo no exame otoscópico, há vários diagnósticos diferenciais a serem considerados: osteomas, colesteatomas, queratoses, pólipos ou carcinomas. Exostoses e osteomas são diferentes apenas histologicamente. Normalmente, os osteomas são unilaterais e posicionados lateralmente no canal. O colesteatoma é um tumor benigno que consiste num acúmulo de camadas de pele, geralmente resultado de otite crónica. A queratose é o acúmulo de queratina no canal. Os pólipos aurais são crescimentos carnudos benignos, causados por irritação da pele do canal. Os tumores malignos no canal auditivo externo são menos comuns e incluem carcinomas de células escamosas, tumores carcinoides e rabdomiossarcomas embrionários.
3) Audiograma
A perda auditiva de condução é uma complicação comum, quando o bloqueio é quase total. A perda auditiva geralmente é agravada com o acúmulo de cerúmen. Se a remoção do cerúmen não for feita, pode colocar pressão excessiva na membrana timpânica, levando mesmo à sua perfuração.
4) Exames de imagem
Tomografia computorizada axial e ressonância magnética podem ser necessárias para o planeamento da cirurgia.
Uma vez formadas as exostoses, elas são irreversíveis. Geralmente, o tratamento clínico implica limpeza frequente dos ouvidos para melhorar os sintomas e prevenir complicações. Se houver mais de 80% de oclusão e os sintomas forem graves e persistentes, apesar do tratamento clínico, deve ser considerada cirurgia por otorrinolaringologia. A cirurgia geralmente envolve anestesia geral, tendo como objetivo a remoção do excesso de osso. Se for necessária cirurgia bilateral, as intervenções devem ser realizadas com cerca de 6 semanas de intervalo. Os resultados na maioria dos pacientes são bons, mas podem existir complicações cirúrgicas como rutura da membrana timpânica, cicatrização retardada, estenose do canal, perda auditiva nas altas frequências, disfunção da articulação temporomandibular e, ainda, paralisia do nervo facial.
A deteção precoce e a prevenção são primordiais.
A tecnologia aprimorada de roupas de mergulho, permite uma maior tolerância a temperaturas mais frias da água, aumentando o risco e a progressão das exostoses.
Assim, as medidas preventivas incluem maior consciencialização quanto aos fatores de riscos da exposição crónica e repetitiva à água fria. Há medidas simples que podem ser adotadas para prevenir as exostoses, como o uso de protetores de ouvidos, faixas ou gorros de neopreno e secagem dos canais auditivos externos após a entrada de água.