Perfuração timpânica: as causas e as consequências

A membrana timpânica é um tecido fino que separa o ouvido externo do ouvido médio. Quando as ondas sonoras atingem o ouvido, passando pelo canal auditivo externo, fazem vibrar esta membrana. Aqui, a energia sonora é convertida em energia mecânica, que, por sua vez, é transmitida aos ossículos do ouvido médio.

A membrana timpânica é dividida em duas regiões: pars tensa e pars flaccida.
A pars tensa é composta por três camadas: uma mais externa, de pele, que se prolonga pelo canal auditivo externo; uma intermédia, de tecido fibroso, que permite a mobilidade da membrana; uma mais interna, de mucosa, que se estende para o ouvido médio.

A pars flaccida só possui duas camadas (a interna e a externa) e como não tem a camada intermédia, não é responsável pela vibração da membrana. Em toda a sua periferia, a membrana adere ao osso, através do sulco timpânico.

A rutura da membrana, chamada perfuração timpânica, pode ocorrer em qualquer idade, e pode ter várias origens:

  • Complicação resultante duma otite média aguda (especialmente em crianças), ou otite externa grave. Os fluidos acumulados no ouvido médio podem criar uma pressão favorecendo o rompimento da membrana
  • Não cicatrização da membrana, após colocação de tubo, para drenagem do ouvido médio
  • Barotrauma por alterações de pressão no ouvido, provocado por mergulho, viagens aéreas ou impacto forte no ouvido
  •  Inserção de objetos no ouvido, ou mau uso de cotonetes
  • Lesões traumáticas da membrana, ocorridas por exemplo, durante atividades desportivas, ou acidentes em que se bate com a cabeça
  • Traumatismo craniano
  • Traumatismo acústico, provocado por ruídos extremamente altos (explosões).

Os principais sintomas da perfuração timpânica são dor e torreia, isto é fluidos aguados, ensanguentados ou com pus que drenam do ouvido médio. Pode existir alguma perda auditiva de transmissão temporária, zumbido ou tontura.

A perfuração timpânica é, geralmente, fácil de identificar, com base na história e no exame físico, através de otoscopia. Pode ser útil realizar audiograma para identificação da perda auditiva.

O tratamento da perfuração timpânica visa, principalmente, o alivio da dor e prevenção de infeções. A maioria das perfurações tendem a cicatrizar espontaneamente, sem complicações, em algumas semanas. No entanto, é importante saber se é necessária a intervenção, com base no conhecimento do tamanho, da localização e dos sintomas associados à perfuração. Se não for devidamente tratada, a perfuração pode levar a complicações, como otite crónica, colesteatoma ou mastoidite. A perda auditiva, normalmente temporária, de grau ligeiro a moderado, pode tornar-se numa perda sensorial mais grave e permanente.

O médico otorrinolaringologista pode prescrever medicamentos para aliviar e tratar os sintomas. Pode, ainda, ser necessário reparar cirurgicamente a perfuração – timpanoplastia. Esta intervenção implica a colocação de um pequeno pedaço de cartilagem, ou fáscia (revestimento muscular) ou materiais sintéticos. Geralmente a cirurgia está indicada quando a membrana não se regenera completamente após 2 meses de rutura, com perda auditiva associada.

É de referir, por outro lado, que as próprias perfurações timpânicas, também, podem causar infeções no ouvido.

As principais medidas preventivas na ocorrência de uma perfuração são várias. A mais importante é manter o ouvido seco, sem entrada de água. Mas também o uso de protetores auriculares no banho, evitar nadar, não usar objetos estranhos para limpar o canal auditivo externo (mesmo o uso dos cotonetes deve ser adequado), evitar viajar de avião, nos casos mais graves (em particular se associado a congestão nasal, devido às diferenças de pressão). E assoar o nariz, não mais do que o estritamente necessário, pois o aumento de pressão no ouvido pode ser doloroso e retardar a cicatrização da membrana.

Referência: Dolhi, N., Weimer. A.D. Tympanic Membrane Perforations. National Library of Medicine, National Center for Biotechnology Information, 2021. Créditos de imagem: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMicm1612629

Fernanda Gentil é Audiologista na Clínica ORL Dr. Eurico Almeida e Coordenadora da Widex Centros Auditivos – Porto. Licenciada em matemática aplicada – ramo de ciência de computadores, pela FCUP. Professora Adjunta do curso de Audiologia, na ESS do Porto. PhD em Ciências de Engenharia pela FEUP. Investigadora e orientadora de teses de Mestrado e Doutoramento, na FEUP. Os seus principais interesses relacionam-se com a Audiologia e Reabilitação Auditiva, assim como simulações matemáticas de modelos computacionais do ouvido. Fernanda Gentil is Audiologist at the ORL Clinic Dr. Eurico Almeida and Coordinator of Widex-Porto. Degree in Applied Mathematics - Computer Science, FCUP. Audiology Professor at ESS, Porto. PhD in Engineering Sciences, FEUP. Researcher and advisor of Master's and PhD theses at FEUP. His main interests are related to Audiology and Auditory Rehabilitation, as well as mathematical simulations of computational models of the ear.