Reclame o direito de viver de acordo com as suas convicções!

A enfermeira australiana Bronnie Ware, autora do livro “The Top Five Regrets of the Dying: A Life Transformed by the Dearly Departing” (mencionada na crónica do mês passado no artigo “Reclamemos mais tempo para a nossa vida familiar“) dedicou parte da sua vida a trabalhar em cuidados paliativos e foi na sequência dessa experiência difícil mas enriquecedora que teve oportunidade de ouvir muitas das últimas reflexões dos seus doentes, as quais tiveram um efeito profundamente transformador na sua vida.

A proximidade com a morte é uma experiência de grande intensidade emocional e por isso mesmo constitui, para algumas pessoas uma oportunidade para identificar o que na vida é realmente essencial. Nessa perspetiva torna-se possível refletir sobre como conduzir a vida, não centrado na perspetiva da morte, naturalmente, mas sim compreendendo que é justamente a nossa mortalidade que torna a vida uma experiência única e preciosa e, por isso mesmo uma oportunidade que deve ser aproveitada e honrada da melhor forma possível.

Bronnie ouviu os seus doentes nesses momentos finais e concluiu que muitos deles partilharam arrependimentos comuns enquanto refletiam sobre a forma como conduziram a sua vida e sobre as escolhas que fizeram e que, eventualmente, poderiam ter feito de outro modo. O primeiro dos arrependimentos partilhados pela maioria dos doentes de Bronnie foi não terem tido a coragem de viver uma vida mais verdadeira para si próprios, em vez de terem procurado corresponder às expectativas dos outros.

conviccoesSer fiel a nós próprios e às nossas convicções

Uma vida vivida de modo gratificante e psiquicamente saudável pressupõe, a meu ver, um equilíbrio entre a satisfação dos desejos e necessidades individuais e a satisfação dos desejos e necessidades alheias. Encontrar esse equilíbrio é um enorme desafio que nos acompanhará por toda a existência mas que merece ser refletido e agido para bem do próprio e dos que o rodeiam. Não há amor adulto, real e compensador em relacionamentos que sejam opressores da independência e liberdade alheia mesmo que o façamos ilusoriamente em nome de uma suposta proteção do ser amado ou para evitar a sua perda. Por outro lado, ceder permanentemente às expectativas que os outros têm a nosso respeito, nunca tendo a coragem de honrar as nossas escolhas, agindo de acordo com as nossas convicções (desde que conscientes da necessidade de aceitar as consequências dessas escolhas) faz-nos correr o risco de perecer (nem que seja emocionalmente e psiquicamente) condenando-nos a uma existência infeliz.

Assim, paremos por um instante para pensar nos aspetos da nossa vida que nos causam profundo mal-estar e tenhamos a ousadia de gentilmente reclamar o direito a sermos nós próprios. Eventualmente, assistiremos ao ruir de algumas relações que temíamos perder mas poderemos neste processo descobrir que as relações mais verdadeiras permanecerão intactas e sólidas e saberemos, então, o que é o amor em estado “puro”, aquele que será talvez a nossa maior realização na vida.

Rita Rosado nasceu em 1974 no Barreiro apesar de viver actualmente numa aldeia do Concelho de Tomar com a sua família. Licenciou-se em Psicologia Clínica pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa em 1997, é membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses com a cédula profissional nº 007261 e concluiu o Mestrado em Ciências da Educação – Formação de Adultos em 2007, pela mesma Universidade. Fez formação em Psicoterapia durante 2 anos, na Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica e exerceu esta actividade entre 1998 e 2005. Actualmente trabalha na área de Orientação Profissional e concilia esta atividade com a formação amadora na área musical. O seu interesse pela problemática da prevenção do cancro aprofundou-se após a experiência que vivenciou enquanto familiar de doentes de cancro. A sua abordagem perante a prevenção dos estados de doença tem por base uma visão holística dos seres humanos enquanto seres com uma dimensão física, emocional e até espiritual ou existencial com necessidade de cuidados ao nível de todas estas facetas.     Rita Rosado was born in Barreiro in 1974 but now lives in a small village near the city of Tomar (Central Portugal). Rita studied Clinical Psychology at Psychology and Educational Sciences College at Lisbon University and got her degree on 1997. She also got a Master degree in Educational Sciences – Adults Education, at the same College, ended in 2007. Rita had 2 years training in Psychoterapy at Portuguese Clinical Psychology Society and worked as a Psychoterapist between 1998 and 2005. At the moment she works has a Career Counselling and spends also some time learning music. Rita´s interest in cancer prevention grows when she had to face this problem in her family. Her vision about health prevention is: “We should see human beings in their multiple dimensions, physical, emotional and spiritual or existential and realize the need to care for all these dimensions”.