A Psicologia é uma área vasta de investigação e intervenção sobre o pensamento, o comportamento e as emoções humanas. Existem diversas abordagens para estudar e intervir nestas dimensões. Neste artigo explicamos em que consiste a Psicologia Positiva, um movimento dentro da Psicologia, e algumas das críticas de que é alvo.
A Psicologia Positiva
No ano 2000, os psicólogos Martin Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi publicaram um artigo numa revista científica que criticava o foco da psicologia na doença e no seu tratamento e outros aspetos negativos da experiência humana. De acordo com os autores, este foco podia ser explicado pela 1ª e 2ª Guerras Mundiais, que direcionaram a investigação para a sobrevivência e a correção do que está “errado”.
Por oposição a esta abordagem que observavam na Psicologia, Martin Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi defenderam que os investigadores deveriam dar mais atenção à experiência subjetiva humana de características e processos positivos como o bem-estar, a esperança, a sabedoria, criatividade e a perseverança, entre outras. Desta forma pretendiam que se desse saliência à promoção do que há de melhor nas pessoas, ao funcionamento humano positivo, quer na saúde, quer em outras áreas nas quais a psicologia atua, como o desenvolvimento, as relações amorosas, a educação e o trabalho. Chamaram esta abordagem de Psicologia Positiva.
Críticas
Apesar das intenções benignas destes e de outros autores que desenvolvem investigação no campo da Psicologia Positiva, ela sofre de fortes críticas. Umas relativas à sua definição, outras relativas ao seu objeto e aos seus objetivos, aos métodos de investigação implementados e ao comércio gerado em seu torno. Através das reflexões de Carol Ryff , psicóloga e investigadora do bem-estar psicológico há quase 50 anos nos Estados Unidos, damos a conhecer algumas das objeções feitas à Psicologia Positiva.
– Origens
Uma das críticas mais salientes é de que a Filosofia, e mais tarde também a Psicologia já tinham investigado aspetos positivos da vida das pessoas, como a capacidade racional, ou desenvolvimento infantil, ou a satisfação conjugal, ou a procura de significado na vida. Todos estes são temas que podem exclusivamente ligar-se à noção de positivo e que foram investigados antes do final do século XX, no qual emergiu o conceito de Psicologia Positiva.
– Positivo vs. negativo
Outra crítica prende-se com a dúvida da existência de um funcionamento humano positivo ideal que possa existir. Mais concretamente, por exemplo, o binómio emoções positivas e emoções negativas que se pode observar na Psicologia Positiva pode não fazer sentido. Perante uma adversidade é normal as pessoas sentirem tristeza, raiva, medo, emoções, que podem ser desagradáveis sim, mas têm uma função adaptativa. A Psicologia deve preocupar-se com a integração do lado mais agradável e do lado de sofrimento da vida, lembrando-se que estes fazem parte de um espetro da experiência humana.
– Investigação
Ao nível da investigação, alguns problemas estão relacionados com a imprecisão na definição do que realmente está a ser estudado. Por exemplo, o que significa realmente felicidade, quando os investigadores a estudam, pode ser difuso. A falta de participantes com menor escolaridade e representativos de culturas não ocidentais também são lacunas apontadas por Carol Ryff.
– Comercialização
Por fim, abordamos a comercialização à volta da Psicologia Positiva, que pode ser perigosa. Nos últimos anos assiste-se à venda de programas individuais ou corporativos e materiais (como sites, livros e vídeos) que prometem a felicidade. De que estudos foram alvo? Que resultados apresentam? Pessoas que promovem estas iniciativas podem estar a aproveitar-se oportunisticamente do movimento da Psicologia Positiva. Adicionalmente, surgem questões sobre a credibilidade destas pessoas que promovem as iniciativas.
Concluindo
Embora a Psicologia Positiva possa consciencializar para a importância de destacar mais aspetos positivos da vida na investigação, ainda tem um caminho a percorrer. Parece ser essencial aprimorar a sua definição, contextualização e métodos de investigação. Dessa forma, poderá ser possível garantir uma maior credibilidade enquanto área de investigação e intervenção psicológica.