A vivência do cancro requer adaptações na vida de quem sofre a doença. Quer os sintomas, quer os tratamentos podem tirar disponibilidade e força para lidar com tarefas outrora típicas do dia-a-dia ou até mesmo torná-las impossíveis de realizar. A par destas consequências, os cuidados de saúde estão cada vez mais a ser prestados em ambulatório, ou seja, as pessoas vão receber tratamentos nas instituições de saúde e regressam a suas casas. Gerir todas estas mudanças pode ser um grande desafio para uma pessoa só. Por isso, é que ao lado de uma pessoa doente é frequente vermos um ou mais cuidadores informais, que apoiam a pessoa na gestão da doença e dos seus impactos. Mas o que a(s) levou até esse lugar?
Porque cuidamos?
Existem vários motivos pelos quais decidimos apoiar uma pessoa doente de forma contínua e tornarmo-nos cuidadores. Podemos cuidar:
- Por amor. Porque temos uma relação de proximidade com a pessoa doente e queremos “estar lá para ela”.
- Por nos sentirmos realizados. Porque cuidar faz-nos sentir bem connosco mesmos, porque sentimos prazer e competência no papel de cuidador.
- Por piedade filial. Porque queremos retribuir aos nossos mais velhos que nos proporcionaram a vida que temos. Uma motivação prevalente em culturas orientais.
- Por já terem cuidado de nós no passado. Porque queremos retribuir a uma pessoa que já cuidou de nós quando estávamos numa fase de necessidade
Porém, nem todas as motivações para cuidarmos têm um fundo romântico ou espiritual. Às vezes, pelas circunstâncias da vida cuidamos:
- Por obrigação. Porque sentimos que quem nos rodeia e a nossa cultura espera isso de nós, quer seja por não termos filhos ou parceiros, por estarmos mais perto da pessoa doente ou por vivermos com ela.
- Por responsabilidade. Porque sentimos que a pessoa doente é da nossa responsabilidade e poderia ficar comprometida se não a apoiássemos.
- Por culpa. Porque queremos redimir-nos de algo que fizemos no passado.
- Por vermos outros cuidadores cansados. Porque sentimos que os outros cuidadores estão sobrecarregados e que podemos ajudá-los.
- Por questões financeiras. Porque não temos capacidade contratar serviços de apoio que poderiam substituir-nos.
Motivação ou motivações?
As propostas de motivações que apresentamos não esgotam todas as possibilidades. Além disso, nenhuma motivação é necessariamente exclusiva ou sequer estática. Aquilo que nos leva a cuidar pode não ser o que nos mantém a cuidar. Hoje cuidamos por amor, e amanhã podemos cuidar porque só nós temos essa disponibilidade de tempo, por exemplo. As motivações que uma pessoa tem para ser cuidadora podem ter um impacto significativo na forma como lida com o papel e, consequentemente, no seu bem-estar e da pessoa de quem cuida. Por estas razões é importante conhecê-las. Se é cuidador, já pensou nas suas? Já pensou nas motivações dos cuidadores que lhe são próximos? Como é que as motivações estão a facilitar ou a dificultar o papel de cuidador?
Se sente que precisa de apoio ou vê um cuidador que pode estar a precisar de apoio, pode tentar ativar ou sugerir as seguintes fontes de suporte: Requerimento do Estatuto do Cuidador Informal, a sua Unidade de Saúde Familiar, Segurança Social, Liga Portuguesa contra o Cancro, Associação Compassio.