Todo o individuo é movido por impulsos externos, em detrimento dos impulsos internos.
A passagem de ano, a entrada num novo ciclo, motiva à criação de novos horizontes, de novas expectativas e determina comportamentos, que procuram ser motores para atingir novos planos e novos horizontes.
Recorre-se a várias alavancas, como por exemplo, ler as previsões astrológicas ou atender a vários ensinamentos como formas de renovação. É fundamental saber escutar e perceber o que realmente é importante e o que pode motivar a efetivar um desejo, uma vontade, um sonho.
Nas doze badaladas da passagem do dia 31 de dezembro para o dia 1 de janeiro, seguem-se as tradições/superstições de sempre. Comer as 12 passas cada uma acompanhada de um desejo, vestir uma roupa nova e escolher uma cor ligada a uma intenção, são práticas comuns e que permitem aumentar os níveis de confiança e de uma atitude positiva perante os desafios a encarar no novo ano. Tudo isto são alicerces, mas são alicerces sem sustentação, pois o importante não são os apoios externos, mas sim aprender a escutar e a dominar a voz interior.
Proponho um exercício como forma de encarar as mudanças que se desejam e criar alicerces enraizados na verdadeira essência do eu. São fundamentados naquilo que se é, na experiência vivencial, no conhecimento e aceitação dos limites do eu e das barreiras que se devem quebrar.
Para realizar este exercício é preciso tempo e disponibilidade mental para perceber se a mudança é mesmo desejada e como pode ser realizada. Um bloco de apontamentos ajuda sempre. Começar por escrever o que se quer mudar, manter o foco nesse objetivo. Perceber as ferramentas emocionais e racionais que se tem para concretizar a mudança.
Perspetivar este caminho, na prática do yoga é dominar ferramentas como a respiração. Focar a mente na respiração, permite acalmar a mente, dominar a ansiedade, a angústia e o medo. Pode ser um caminho muito mais longo do que comer as 12 passas, mas nada se constrói com desejos, uma vez que, estes têm de ser enraizados e valorizados na essência do eu. Só desta maneira, na tranquilidade daquilo que se é, se consegue chegar a bom porto.
Quando os benefícios da respiração são interiorizados e se ganha a confiança de estar consigo mesmo, aceitando o que surge na descoberta do eu, todo um novo mundo começa a despertar e a surgir como necessário em detrimento da vontade de mostrar ao mundo o valor individual. O valor de um individuo só pode ser medido pelo respeito a si próprio e ao mundo que o rodeia. A aprovação do desempenho, da funcionalidade ou de quem se é, só pode ser validado em primeira instância pelo próprio e só depois aceitar a validação exterior, se ainda for necessária.
O grande motor para aceitar e vivenciar este caminho é dado pela meditação.
Meditar é a chave para a aceitação daquilo que se é. A superação das amarras do meio socioeconómico em que se está enquadrado é um caminho individual, de enorme introspeção e reflexão, sobre quem se é e para onde se deseja ir.
O que desejo mesmo a todos os que lerem este texto é aproveitarem o ano que se inicia para perceberem a vossa imensidão interior e deixarem de estar focados no que os outros esperam que sejam. Quando se perde o interesse pela expectativa do outro sobre o eu, o mundo fica muito melhor.