É comum no início ou no final da aula de yoga surgirem dúvidas ou questões.
Este episódio passou-se no final, suponho eu, no seguimento de uma conversa de vestiário entre alunos.
Estava na receção da Vidya-academia de yoga quando chegaram dois alunos e um deles colocou a seguinte questão, com ar jocoso:
– Pergunto o que venho aqui fazer, todos os dias, se durante toda a aula sinto dores?
Rimos todos e eu respondi:
– O importante não é centrares a mente na dor, mas sim na superação da mesma. Não notas que estás melhor? Que a dor se vai tornando menos persistente? Que se controlares a respiração ajuda a controlar a dor?
O importante é perceberes como a mente se deve preocupar mais em construir caminhos para saber ultrapassar a dor, do que com a presença dela. Admitires que quem manda na dor és tu e não o contrário. Como costuma dizer um outro aluno e parafraseando a mãe em relação á dor: Não me vencerás…
Esta é uma das questões primordiais do yoga, a perceção que a mente está muito para além da sensação, do sentimento e do raciocínio. Nenhum destes elementos pode dominar a mente, mas a mente tem o poder de se sobrepor aos mecanismos do pensamento e conquistar o seu lugar de domínio sobre a corrente de pensamento. Só desta forma, podemos afirmar que dominamos o corpo e a mente.
O caminho do yoga é a constante descoberta entre a capacidade de melhorar a performance física e perceber que esta capacidade física leva a uma consciencialização mental de que a superação é possível, desde que nos disponibilizemos a isso.
A superação é uma arte em constante aprendizagem. Precisa de apoios, de outras vontades interiores para vencer. A primeira dessas vontades é a disponibilidade mental para querer mudar.
Eu lido com muitas pessoas e dou o exemplo do Covid sobre como é deixar-se dominar pelo medo. Há alunos de yoga que acham que se ficarem em casa durante o período em que o Covid está mais intenso, ficarão mais protegidos. Não vão. Só vão permitir que o sistema imunitário enfraqueça devido ao isolamento. Outros têm medo da vacina, pois consideram que tem muitas contraindicações, pelo que não tomam a vacina e permitem que a doença se propague. São dois extremos que se tocam pelo sentimento do medo. Enquanto o foco permanece no medo e a disponibilidade mental para mudar não vai surgir. A procura da verdade dos factos e a coragem para os assumir é o caminho e um dos apoios da superação.
A persistência e a determinação, são outros dois alicerces para atingir a superação. Quando o caminho escolhido parece o certo, devemos manter o foco nesse caminho, sempre com a mente aberta ao que surge, de modo a engrandecer a jornada e se chegar ao objetivo final.
A resiliência é outro desses alicerces, porque aprender e dominar o conhecimento do que se conhece não é fácil. É muito tentador voltar ao modus operandi de sempre e viver no conforto do que se domina, por muitos dissabores que tenha.
Praticar yoga tem múltiplos benefícios, físicos, mentais e psicológicos. No mês da saúde mental é importante perceber qual o melhor caminho a seguir, apoiando-se na vontade de mudar e na perceção que a mente é o maior aliado.