Pode o yoga e a meditação ultrapassarem a barreira da comprovação científica para se imporem como terapias? Provavelmente não, se apenas o olharmos como um objeto da ciência, mas garantidamente que sim, se o praticamos. A consciência do corpo, da respiração e da mente, são a chave “científica” que cada um, individualmente, precisa para perceber os benefícios do yoga e da meditação.
Ao ler o livro “Como a meditação pode (ou não) mudar a sua vida”, percebi que os ensaios clínicos e as provas científicas podem ou não ser uma mais-valia na explicação do caminho individual de cada um, na prática do yoga e da meditação.
De facto hoje em dia, a necessidade de estudar os benefícios do yoga é uma prática generalizada de muitas universidades internacionais. Há cada vez mais médicos que estudam e recomendam a prática do yoga, sendo eles próprios praticantes. Não há nada melhor que praticar e sentir, para poder recomendar. A prática de yoga inclui, atividade física, concentração mental, relaxamento e meditação.
Alguns estudos mostram que praticar yoga, pode ajudar nas doenças autoimunes, na depressão, na ansiedade, na gravidez, na diabetes, no cancro, entre outras. Também pode ajudar, na forma como se encara o mundo e como cada um se vê a si mesmo. Os seus efeitos estão muito para além da tonicidade muscular e da flexibilidade, criam caminhos na mente, de cura, de compreensão, de libertação e aceitação daquilo que se é. Tornamo-nos melhores pessoas, porque percebemos as nossas limitações, aceitamo-las e aprendemos a viver com elas de forma generosa.
A partir desta base de aceitação pessoal, percebe-se e aceita-se o outro com a mesma generosidade. O yoga é uma filosofia de vida, é uma forma de estar na vida, não é apenas ir para uma sala de aula e praticar “coisas”. O despertar da consciência de si é o mais importante, os caminhos para lá chegar dependem de pessoa para pessoa.
No livro “Como a meditação pode (ou não) mudar a sua vida”, Miguel Farias refere os benefícios de um bom relaxamento e que são idênticos aos benefícios da meditação. Mas a evidência científica destes resultados, fica muito aquém daquilo que na verdade se experiencia individualmente. Se o relaxamento como forma de controlar o stress e os pensamentos negativos pode ser mais fácil de praticar e de entender, já a meditação pode criar ainda mais stress e mais confusão mental.
Realmente e tal como o livro mostra, a meditação, não pode ser retirada do seu contexto filosófico, de uma forma própria de estar na vida. Praticar meditação não é apenas usar um conjunto de técnicas. O praticante de meditação não pode olhar a meditação como um simples “hábito de higiene mental”. A meditação implica um conhecimento profundo sobre si mesmo e a aceitação daquilo que se é e daquilo que nos rodeia. Só desta maneira se pode estar em paz consigo mesmo e com os outros. Tudo começa dentro de cada um e quando se está em paz, essa paz flui e contagia o que nos rodeia.
As novas técnicas de meditação como o mindfulness, afastam o praticante do verdadeiro caminho da meditação. O yoga e a meditação, não são um fim, são um caminho, uma viagem, uma aventura individual. Utilizar a meditação para um ato terapêutico, é descontextualizar o caminho da meditação.
[fonte]Fonte de informação: Como a meditação pode (ou não) mudar a sua vida de Miguel Farias e Catherine Wilkholm, Lua de Papel, 2015.; Créditos da imagem:www.meetup.com[/fonte]