O cancro da mama é o tipo de cancro com maior número de novos casos no Mundo e a primeira causa de morte por cancro em mulheres.
Apesar de se desconhecer o exato mecanismo que leva ao ganho de peso no cancro da mama, sabe-se que entre 30% a 50% das mulheres ganha mais de 5% do peso corporal. A média de ganho de peso é de 2 a 3 kg no primeiro ano após o diagnóstico e o peso ganho parece manter-se por vários anos, mesmo após a conclusão do tratamento.
Nas mulheres com cancro da mama, o ganho de peso traduz-se em alterações significativas na composição corporal, com um aumento de massa gorda e redução da massa muscular, tornando relevante monitorizar estas variações, com métodos de avaliação da composição corporal fiáveis e adequados para esta população.
Composição corporal no cancro da mama: a avaliação com bioimpedância elétrica
Dos vários métodos disponíveis para avaliação da composição corporal, a mediação das pregas cutâneas e a bioimpedância elétrica são as mais acessíveis na prática clínica.
A bioimpedância elétrica baseia-se nas propriedades de condução elétrica do corpo humano, sendo a água, muito presente no tecido muscular, um bom condutor elétrico e a gordura e o osso, maus condutores elétricos. A resistência à passagem de corrente elétrica – impedância – é convertida na quantidade de massa gorda e massa livre de gordura – osso, músculo e água – através de equações preditivas incluídas nos equipamentos.
Em qualquer contexto, as bioimpedâncias que incluem polos em ambas as extremidades – mãos e pés – são as mais fidedignas, mas mesmo estas têm diversas limitações, que se tornam ainda mais particulares, nas mulheres com cancro da mama. Nesta população, alterações como o linfedema, assim como as alterações hormonais que ocorrem em consequência dos tratamentos, alteram a distribuição da água corporal, podendo comprometer os resultados obtidos com estes equipamentos.
Num estudo realizado em 2011, os autores avaliaram os resultados da composição corporal de sobreviventes de cancro da mama que tinham concluído os tratamentos nos 6 meses anteriores, usando as pregas cutâneas, a bioimpedância e a pletismografia por deslocação de ar, este último um método bastante fidedigno.
Os resultados mostraram que a bioimpedância sobrestimou a massa gorda em cerca de 8% a 10% e os autores atribuem estes resultados a um possível estado de hidratação alterado associado à terapêutica hormonal, concluindo que a bioimpedância pode não ser um método fiável para avaliar a composição corporal de sobreviventes de cancro da mama, após o tratamento ou quando se encontram a fazer terapêutica hormonal.
Resultados contraditórios foram encontrados por outros autores em 2019, num estudo realizado com mulheres sobreviventes de cancro da mama, também com os tratamentos concluídos nos 6 meses anteriores à avaliação e com índice de massa corporal de excesso de peso ou obesidade e gordura corporal acima de 30%. Os autores concluíram que a bioimpedância parece subestimar a massa gorda e sobre-estimar a massa magra.
Um outro estudo onde foram avaliadas diversas equações preditivas presentes em equipamentos de bioimpedância, concluiu que em doentes com cancro da mama, com excesso de peso ou obesidade, avaliados durante o tratamento, a maioria das equações sobre-estima a massa magra, numa media de 4,1kg.
Estes estudos apontam para que os resultados obtidos com a bioimpedância, para avaliação da composição corporal em mulher com cancro da mama, devem ser interpretados com precaução, já que este método apresenta limitações adicionais nesta população.
[fonte]Referências: Global Cancer Observatory (http://gco.iarc.fr/), International Agency for Research on Cancer 2020. World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research.Continuous Update Project Expert Report 2018. Diet, nutrition and physical activity and breast cancer. Available at dietandcancerreport.org. Heetun A, Cutress RI, Copson ER. Early breast cancer: why does obesity affect prognosis? Proc Nutr Soc. 2018 Nov;77(4):369-381.Rossi F, Valdora F, Bignotti B, Torri L, Succio G, Tagliafico AS. Evaluation of body Computed Tomography-determined sarcopenia in breast cancer patients and clinical outcomes: A systematic review. Cancer Treat Res Commun. 2019;21:100154. Battaglini C, Naumann F, Groff D, Shields E, Hackney AC, Peppercorn J. Comparison of body composition assessment methods in breast cancer survivors. Oncol Nurs Forum. 2011;38(4):E283-E290. Oncol Nurs Forum. 2011 Jul;38(4):E283-90.Bell KE, Schmidt S, Pfeiffer A, et al. Bioelectrical Impedance Analysis Overestimates Fat-Free Mass in Breast Cancer Patients Undergoing Treatment. Nutr Clin Pract. 2020;35(6):1029-1040.Lee K, Sami N, Sweeney FC, Dieli-Conwright CM. Body Composition with Dual-Energy X-Ray Absorptiometry and Bioelectrical Impedance Analysis in Breast Cancer Survivors. Nutr Clin Pract. 2019;34(3):421-427. Crédito das imagens: https://www.jonbarron.org/weight-management/body-fat-and-breast-cancer/ [/fonte]