“E se o cancro voltar? E se piorar?” O medo da recidiva faz despoletar questões como estas que frequentemente pairam na cabeça da pessoa que está a enfrentar ou já superou o cancro e daqueles que dela cuidam. Neste texto exploramos alguns contributos da investigação sobre o medo da recidiva.
O medo da recidiva
Quando falamos em medo da recidiva estamos a falar do “medo ou preocupação de que o cancro pode voltar ou progredir”. Este medo é sempre legítimo durante e após a experiência de um cancro. Este sentimento pode ocorrer quer na pessoa que teve ou tem a doença, assim como nos seus cuidadores. Contudo, de acordo com a investigação, a partir de um certo ponto pode ser problemático. Ambos cuidadores e sobreviventes parecem sentir o mesmo nível de medo em relação à recidiva. Em alguns estudos o medo de recidiva chega a ser maior nos cuidadores do que na própria pessoa que enfrenta a doença.
Fatores associados
São vários os fatores que têm vindo a ser associados ao medo da recidiva. Tipicamente as pessoas mais jovens que vivem a doença aparentam ter mais receio. Quanto ao sexo parecem não haver diferenças nas pessoas com cancro, apesar de nos cuidadores verificar-se que as mulheres sentem mais este medo. Quando o tratamento é realizado através de uma operação, sobreviventes e cuidadores reportam menos receio, do que aqueles que passam por quimioterapia ou radioterapia. De destacar que o medo da recidiva parece sofrer de influência mútua entre cuidador e pessoa que tem ou teve a doença. Tal significa que o aumento do medo numa pessoa aparenta promover o aumento do medo na outra pessoa.
Possíveis consequências
Apesar de a palavra “medo” estar frequentemente associada a experiências negativas, este receio parece poder trazer também consequências positivas. Por um lado, as pessoas parecem realizar mais mudanças na sua vida que levam a um estilo de vida saudável. Alguns exemplos são a alteração da dieta e o aumento de check-ups. Outras alterações podem associar-se à procura de uma nova forma de viver (realizar ou aproveitar mais certas experiências) ou mudar a perspetiva perante a vida, numa ótica de gratidão e apreciação.
Por outro lado, o medo da recidiva encontra-se frequentemente associado a sintomas de ansiedade e depressão, quer na pessoa doente, como nos cuidadores. O medo da recidiva pode, portanto, levar a um funcionamento não adaptativo. Por exemplo, a pessoa pode ter pensamentos intrusivos em forma de discurso ou imagens sobre a recorrência ou um novo diagnóstico de cancro, ou sobre tratamentos e reações de familiares e amigos. Pode ainda ficar excessivamente preocupada com sintomas de mal-estar, levando à necessidade de procurar profissionais de saúde recorrentemente. Paradoxalmente, a pessoa pode querer evitar totalmente contextos de saúde que liga à sua experiência anterior de diagnóstico e tratamento. Por exemplo, pode não querer marcar consultas ou fazer exames importantes para monitorizar a sua sáude.
No fundo, o medo da recidiva é algo que as pessoas que passam pelo diagnóstico de um cancro e aqueles que delas cuidam frequentemente sentem. O medo não é necessariamente negativo, pois pode trazer alterações positivas para a vida da pessoa com cancro ou sobrevivente e cuidadores. No entanto, importa estarmos conscientes da possibilidade do seu impacto adverso e de procurarmos apoio de profissionais, caso não estejamos a ser capazes de lidar com as suas consequências.