A gordura corporal em excesso aumenta o risco de cancro do pâncreas.O tabagismo, a diabetes e a pancreatite crónica são os fatores de risco estabelecidos para esta doença, mas os resultados de estudos de coorte recentes apontam a obesidade como causa para o risco aumentado do cancro pancreático.
Em Portugal foram registados em 2020, 1792 novos casos de cancro do pâncreas, representando cerca de 3% de todos os novos casos de cancro. O cancro do pâncreas é a 6ª causa mais comum de morte por cancro. A incidência é ligeiramente maior em homens do que em mulheres.
Os estágios iniciais do cancro pancreático geralmente não produzem sintomas, de modo que a doença geralmente está avançada quando é diagnosticada. No nosso país, a prevalência a 5 anos das pessoas que vivem com cancro do pâncreas é de 11.7 por 100.000.
O pâncreas é uma glândula formada por dois tipos de tecido, exócrino e endócrino. O pâncreas exócrino produz enzimas digestivas que são secretadas para o intestino delgado. As células do pâncreas endócrino produzem hormonas como a insulina e glucagon para o metabolismo da glicose. Mais de 95 por cento dos diagnósticos para este tipo de cancro são adenocarcinomas do pâncreas exócrino.
Como é que a gordura corporal excessiva se relaciona e afeta o risco de desenvolver este tipo de cancro?
A gordura corporal excessiva estimula uma resposta inflamatória, o que pode contribuir para o início e progressão da tumorogénese.
A obesidade é caracterizada por um estado de inflamação crónica de baixo grau, com a produção elevada de fatores pró-inflamatórios pelas células adiposas– os adipócitos, promovendo o ambiente ideal para o desenvolvimento tumoral. Os indivíduos obesos têm concentrações elevadas de fator de necrose tumoral (TNFα), interleucina (IL-6) e proteína C reativa, em comparação com pessoas normoponderais. Também a leptina funciona como uma citocina inflamatória.
Alguns dos mecanismos sugeridos para explicar a relação da gordura corporal excessiva com o risco de alguns tipos de cancro, como o cancro do rim, da mama pós-menopausa, colorretal e do endométrio, também são equacionados no desenvolvimento do cancro pancreático, incluindo a hipótese da resistência à insulina e do metabolismo alterado da glicose.
Existe uma relação bem estabelecida entre o aumento da gordura corporal e a resistência à insulina e a diabetes. Maior gordura corporal afeta os níveis de insulina em circulação e de outros fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGF-1) e aos estrogênios, criando um ambiente celular que estimula a carcinogénese e inibe a apoptose.
A resistência à insulina é aumentada, em particular pela gordura abdominal, e o pâncreas compensa aumentando a produção de insulina, denominada de hiperinsulinemia, o que aumenta o risco de cancro do cólon, do endométrio e, possivelmente, do pâncreas e do rim.
É assim inequívoco que a complexidade e a interligação destes mecanismos biológicos são influenciados negativamente com a presença excessiva de gordura corporal e, em particular, a gordura abdominal. Por isso, a manutenção de um peso saudável durante a vida adulta é uma medida básica e eficaz na prevenção do cancro em geral, incluindo o cancro pancreático.
[fonte]Referências: https://www.wcrf.org/dietandcancer/pancreatic-cancer/;de Gonzalez, A. B., Sweetland, S., & Spencer, E. (2003). A meta-analysis of obesity and the risk of pancreatic cancer. British journal of cancer, 89(3), 519-523.;https://gco.iarc.fr/today/data/factsheets/populations/620-portugal-fact-sheets.pdf [/fonte]