A obesidade que é caracterizada pelo excesso de adiposidade corporal, aumenta o risco para certos tipos de cancro, causando uma significativa redução dos anos de vida. O cancro colorretal é um deles. Em Portugal, este tipo de cancro é o mais prevalente, ocupando o primeiro lugar, é a segunda principal causa de morte, sendo responsável anualmente por quase 3000 mortes, em homens e mulheres.
Como é que o ganho de peso, o aumento progressivo do peso na vida adulta em gordura corporal se relacionam e afetam o risco de desenvolver este tipo de cancro?
O corpo humano deposita todo o excesso de energia que consome através dos alimentos e das bebidas em gordura no tecido adiposo. A quantidade de tecido adiposo no corpo varia muito de pessoa para pessoa; a quantidade e a localização dos depósitos de gordura variam consideravelmente entre indivíduos e ao longo da vida de uma pessoa.
Gordura corporal e cancro colorretal
Existem dados convincentes de uma associação positiva entre gordura corporal e cancro colorretal.
O aumento da gordura corporal está associada a alterações hormonais; por exemplo, níveis elevados de insulina a circular contribuem em duas frentes: podem promover o crescimento das células cancerosas do cólon, ao mesmo tempo que inibem a apoptose – o mecanismo de morte celular que fisiologicamente acontece no corpo humano, quando as células deixaram de ser viáveis.
Um conceito emergente sobre o metabolismo do cancro defende que o tecido adiposo que rodeia o tumor fornece energia ou nutrientes para o crescimento anabólico das células cancerosas. Isto é, o microambiente tumoral e as células cancerosas parecem domesticar os adipócitos para estes lhes fornecerem energia e transferir nutrientes como acidos gordos livres, glutamina, cetona e L-lactato, proporcionando assim um crescimento mais rápido.
A gordura corporal excessiva também pode estimular uma resposta inflamatória do corpo, através da produção de várias citocinas pró-inflamatórias pelo tecido adiposo, em que se incluem a interleucina 6 (IL-6), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α)e inibidor do ativador do plasminogénio 1 (PAI-1), mecanismo que leva ao desenvolvimento do cancro.
Mas a investigação também tem vindo a mostrar que o cancro colorretal pode ser prevenido com medidas ao alcance de todos. Para isso, precisamos de estar informados para entender como podemos prevenir esta doença.
Há evidências inequívocas de que ser fisicamente ativo diminui o risco do cancro do colorretal. E ainda que há evidências com forte probabilidade de que consumir cereais de grãos integrais e alimentos ricos em fibras dietéticas também contribuem para a diminuição do risco.
O consumo adequado de produtos lácteos é recomendado. Os estudos têm constatado uma associação inversa entre a ingestão de produtos lácteos e o desenvolvimento de cancro colorretal, e que é amplamente atribuída pelo alto teor de cálcio. Além do cálcio, as bactérias produtoras de ácido láctico também podem proteger do cancro colorretal, bem como a caseína e a lactose no leite por aumentarem a biodisponibilidade do cálcio. Outros nutrientes ou constituintes bioativos presentes nos laticínios, como a lactoferrina, a vitamina D (de laticínios fortificados) ou o butirato dos ácidos gordos de cadeia curta podem ainda conferir algumas funções protetoras, mas são necessários mais estudos para elucidar estes aspetos.
[fonte]Referências: World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research. Diet, Nutrition, Physical Activity and Cancer: a Global Perspective. Continuous Update Project Expert Report 2018. Available at dietandcancerreport.org; World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research. Continuous Update Project Expert Report 2018. Meat, sh and dairy products and the risk of cancer. Available at dietandcancerreport.org; The Global Cancer Observatory – December, 2020; Ye, P., Xi, Y., Huang, Z., & Xu, P. (2020). Linking obesity with colorectal cancer: Epidemiology and mechanistic insights. Cancers, 12(6), 1408.[/fonte]