O dom do poeta é clarificar sem simplificar. É quase exactamente o oposto do dom da ciência, que busca compreender mediante a simplificação.
As nossas palavras podem ser, tranquilizantes, stressantes, clarificadoras, motivantes, analgésicas e decisivas. Porém, ao pronunciá-las, desconhecemos a sua repercussão, porque depende de quem as escuta, do momento, dos gestos que as acompanham e de muitos outros aspectos subtis, indivisíveis e inconscientes.
O psiquiatra Allen Frances descreveu uma experiência que retrata muito bem quando as palavras são usadas no momento preciso: “Na minha prática de psicoterapeuta tratei de um doente durante quatorze anos duas vezes por semana e não consegui influência alguma na sua vida. No entanto, na sala de urgência falei com algumas pessoas durante quinze minutos sem as conhecer. O que me surpreendeu, é que uma dessas pessoas anos mais tarde se aproximou de mim e disse-me: – as suas palavras mudaram a minha vida.”
Tal como a maioria dos meus colegas, podemos sentirmo-nos identificados com esta experiência. Concentramos os nossos esforços para provocar mudanças e não obtemos qualquer êxito, e um dia, de repente, as nossas palavras fazem um milagre. Milagres que se dão independentemente do nosso paradigma psicológico, que consideramos, até, como um factor comum.
Em alguns casos, os métodos científicos e clínicos são de “ vistas curtas”, são demasiados simplificadores ou analíticos. As emoções, as sensações, os pensamentos do outro devem ser captados na sua totalidade, sem análise. Devem ser sentidos. E se escutarmos sentiremos a sua poesia que, até, talvez, seja bem mais oportuna.
Sem darmos conta, poderemos, ou não, facilitar o que lhes permaneça oculto e assim abrir o que sempre esteve lá. Depende de nós o primeiro passo. Raramente saberemos se acertamos. Mas devemos tentar.
[fonte] Referências: Bayés, R. (2016). Encontrar las palabras oportunas en el momento preciso. Ágora de Enfermería, 20 (4), 149-151. / Foto de Julie Waroquier “The weight of your words” [/fonte]