Tenha a coragem de exprimir o que sente!
Na sequência dos artigos anteriores, este mês continuamos a reflectir acerca dos 5 maiores arrependimentos verbalizados por doentes terminais acompanhados pela enfermeira australiana Bronnie Ware.
A razão pela qual este estudo se tem revelado tão impressionante é o facto de nos permitir reflectir acerca de questões importantes que afectam a nossa qualidade de vida e bem-estar mas que, infelizmente, temos dificuldade em aprofundar quando tudo corre, aparentemente bem. Em contrapartida, a proximidade com uma experiência limite torna mais clara a nossa visão sobre essas questões. Então, aproveitemos para preventivamente fazer esta reflexão pois, no final o que realmente importa é a qualidade da vida que escolhemos ter, apesar das circunstâncias.
Assim, o terceiro maior arrependimento verbalizado pelos doentes de Bronnie foi a falta de coragem para exprimirem os seus sentimentos de um modo franco.
Muitas pessoas reprimem as suas emoções para conseguirem manter relações mais pacíficas, não desiludindo ou contrariando os outros, contudo, o resultado acaba por ser a aceitação resignada de uma existência medíocre e a sensação de nunca terem sido capazes de se assumirem como realmente são. Esta repressão, muitas vezes conduz à doença pois deste modo a vida vai sendo vivida com o peso da amargura e do ressentimento.
Por trás desta decisão de sacrificar o bem-estar pessoal em prol dos outros está, muitas vezes, a crença na inevitabilidade de recuperar do sofrimento causado pela perda dos laços afectivos com os outros, aqueles a quem não se quer desiludir ou magoar.
Contudo, é também sacrificada a oportunidade de construir relações realmente gratificantes para todos os intervenientes, pois tratar-se-ão, de relações assentes em alicerces frágeis. Por outro lado, também se compromete o desenvolvimento pessoal na medida em que ocorre um lamentável desperdício de tempo e energia, investidos em relações patológicas e nada gratificantes, as quais eventualmente só não se transformam em algo novo pela dificuldade de arriscarmos sermos nós próprios.
A verdade é que muitas vezes é possível descobrir, agradavelmente, que os outros têm muito mais disponibilidade para aceitarem o nosso verdadeiro eu do que julgávamos, desde que o façamos com a capacidade de aceitar também no outro os seus próprios sentimentos. É esse o verdadeiro teste ao amor que temos por quem nos é próximo e, acima de tudo, ao nosso amor-próprio, tão ou mais importante do que qualquer outro.
Então, arrisquemos a sermos nós próprios e a exprimirmos os nossos verdadeiros sentimentos reconhecendo o mesmo direito a quem amamos.