Há alguns meses, num programa de televisão sobre jovens músicos prodigiosos, perguntava-se a uma criança que aprendia a tocar violino o que sentia quando tocava. A menina respondeu simplesmente: “Sinto uma grande alegria”. Estando a lançar-me no desafio da compreensão da linguagem musical e a tentar aprender a tocar um instrumento, senti uma identificação profunda com estas palavras. A música tem, sem sombra de dúvidas um poderoso efeito sobre nós.
No livro “o extraordinário poder curativo das coisas simples”, Larry Dossey descreve diversas evidências do poder terapêutico da música sobre as pessoas e faz inclusivamente referência a estudos científicos pioneiros que defendem a ideia de que existe uma musicalidade inata nos nossos genes. De entre estes estudos destaca-se o do geneticista Susumo Ohno que conclui que “quando se programam os genes com música ou a música com genes, acontecem coisas estranhas e maravilhosas”. Ohno atribuiu aos diversos genes notas musicais de acordo com o seu peso molecular na tentativa de explorar a musicalidade da estrutura desses mesmos genes, e descobriu que existe uma espécie de música genética. Por exemplo, quando Ohno traduziu para música o oncogene SARS, o mesmo soou surpreendentemente parecido com a marcha fúnebre de Chopin e a enzima fosfoglicerato quinase, que desfaz a glucose, traduzida para linguagem musical assemelhava-se a uma canção de embalar.
Num outro documentário é descrita uma experiência em que se pedia a mães em inicio de gestação que ouvissem uma determinada canção repetidamente ao longo das diversas semanas anteriores ao parto. Essa mesma canção era depois dada a ouvir aos seus bebés após o nascimento e surpreendentemente os mesmos reagiam de modo diferenciado a essa mesma melodia como se efectivamente a reconhecessem.
Em todas as culturas antigas existem referências à conexão que existe entre a música e a transformação do estado de espírito. Baseado nos estudos da musicoterapia clássica o psiquiatra inglês Robert Schauffer observou diversos efeitos dos instrumentos musicais sobre o organismo humano. Schauffer descobriu por exemplo que o som do violino combate a sensação de insegurança enquanto que os metais de sopro inspiram coragem e impulsividade e o violoncelo incentiva a introspecção. De acordo com a sua qualidade os estímulos sonoros produzem efeitos positivos ou negativos no ser humano. Então, porque não dar a si mesmo tempo para aprender a tocar um instrumento musical, assistir a um concerto ou simplesmente sentar-se calmamente a apreciar uma das suas músicas preferidas?
A música está e sempre esteve ao nosso dispor mas a forma mais simples de a escutarmos é prestando atenção aos sons da natureza. Dormitar ao som de um regato de água a correr ou a ouvir o bater das ondas do mar pode ser uma das experiências mais relaxantes que podemos vivenciar. Pode ser um simples prazer mas fará com toda a certeza algo de grandioso pela sua saúde e bem-estar.