Os ultraprocessados são alimentos e bebidas prontos a consumir, produzidos pela indústria alimentar. Com o objetivo de melhorar o seu sabor, incluem ingredientes usados para o fabrico dos alimentos processados, ingredientes exclusivos deste grupo que não são habitualmente usados em preparações culinárias e aditivos alimentares.
Dietas que incluem uma elevada ingestão de alimentos ultraprocessados são nutricionalmente inferiores a dietas que não incluem estes alimentos. São também dietas mais calóricas, com maiores quantidades de gordura total, gordura saturada, sal e açúcares de absorção rápida e com baixa fibra. As dietas ricas em alimentos ultraprocessados têm vindo a ser associadas a diversas doenças crónicas não transmissíveis.
Investigadores do Reino Unido propuseram-se avaliar se o consumo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco e a mortalidade por cancro. Para isso avaliaram os hábitos alimentares de uma amostra significativa de 500 000 participantes e a incidência e mortalidade associada a 34 tipos de cancro. Neste estudo a ingestão calórica de alimentos ultraprocessados correspondeu a 48,6% da ingestão calórica total dos participantes.
Os autores verificaram que cada aumento de 10% (g/dia) na ingestão diária de alimentos ultraprocessados, correspondia a um aumento de 2% na incidência global de cancro e 6% na mortalidade por cancro. Identificaram ainda que o mesmo aumento de 10% na ingestão diária de alimentos ultraprocessados se associa a um aumento de 19% na incidência de cancro do ovário e 30% na mortalidade associada a este tipo de cancro. Por último, reportaram um aumento 16% na mortalidade por cancro da mama associado ao mesmo consumo diário de alimentos ultraprocessados.
Os últimos dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física 2015-2016 mostram que o consumo semanal de carne processada se encontra acima das recomendações da OMS, cerca de 24% da ingestão energética diária dos portugueses tem como fonte os alimentos ultraprocessados e que 29% do consumo alimentar total diário é proveniente de bolos, doces, bolachas, snacks salgados, pizzas, refrigerantes, néctares e bebidas alcoólicas.
Considerando que a alimentação inadequada é uma das principais causas evitáveis de doenças crónicas, à qual se associam 243 567 anos perdidos de vida por incapacidade em Portugal e tendo em conta o peso dos alimentos ultraprocessados na dieta dos portugueses, é urgente reduzir o seu consumo, tendo em vista a redução do risco de doença no futuro.
[fonte]Referências: Chang K, Gunter MJ, Rauber F, et al. Ultra-processed food consumption, cancer risk and cancer mortality: a large-scale prospective analysis within the UK Biobank. EClinicalMedicine. 2023;56:101840. Ministério da Saúde. Direção-Geral da Saúde. Programa Nacional para a promoção da alimentação saudável 2022-2030. Portugal.2022. Crédito das imagens: azerbaijan_stockers on Freepik [/fonte]