Adoptar um estilo de vida saúdavel

Gostou? Partilhe

Burnout: queimar-se a tratar

Burnout

O bem-estar dos profissionais de saúde é essencial para que possam oferecer cuidados de qualidade.  Na área da oncologia, onde a tomada de decisão dos médicos pode ter impacto na vida e sobrevivência das pessoas, a prevalência do burnout tem vindo a subir em vários países. Felizmente, algumas medidas já implementadas e avaliadas mostram-se eficientes na redução do burnout destes profissionais.

O burnout em oncologia

O burnout é um estado ocupacional de mal-estar caracterizado por “uma síndrome psicológica de exaustão emocional, despersonalização e realização pessoal reduzida” (Maslach et al., 1997, p.192).  Em Portugal, usa-se com frequência o conceito de “esgotamento”, contudo a palavra anglo-saxónica prevalece no discurso público. Esta expressão remete para a ideia de “queimar até estar gasto”. Médicos que se encontram neste estado parecem exibir várias problemáticas, como abuso de substâncias e depressão. Adicionalmente, profissionais a viver este quadro parecem mais suscetíveis a cometer erros médicos, exibir má conduta profissional e a reformarem-se mais cedo. Por conseguinte, a qualidade do próprio cuidado prestado aos doentes acaba por ser negativamente influenciada.

A noção de que muitos profissionais estão a “queimar-se a tratar” de pessoas doentes tem vindo a receber atenção de várias associações de médicos oncologistas, tais como a European Society for Medical Oncology, a American Society of Clinical Oncology e a Society of Gynaecologic Oncology. Um estudo realizado por Banerjee e colaboradores em 2017, sinaliza a existência de elevados níveis de burnout de jovens médicos oncologistas na Europa, tal como indica a imagem abaixo. Fatores como a ausência um equilíbrio vida profissional e vida pessoal, tempo de férias desadequado parecem ser preditores de maiores níveis de burnout dos profissionais. No sudeste europeu, região na qual Portugal se insere, os níveis de burnout são de 79.1%. Entre as três dimensões que compõem o burnout, os piores resultados desta região surgem na exaustão emocional e na falta de realização pessoal.

BurnoutMédicos

Medidas de redução do burnout

Algumas medidas que se mostram promissoras na redução do burnout destes de médicos oncologistas são:

  • Limitação do horário de trabalho
  • Menor duração da rotação de pacientes internados
  • Formação de grupos de discussão e partilha de experiências
  • Treino de competências de comunicação com pacientes

As mudanças de políticas de prestação de cuidados não devem restringir-se ao foco na pessoa doente. O burnout e outras formas de mal-estar que afetam os profissionais de saúde, além de prejudicarem os próprios, representam um risco para a saúde de todos. Felizmente, a investigação parece cada vez mais atenta a este fenómeno, principalmente após a pandemia causada pela COVID-19, que exigiu muitas adaptações nos cuidados aos doentes, e os esforços para mitigar estes quadros de mal-estar começam a ser executados.

Referências: Banerjee, S., Califano, R., Corral, J., de Azambuja, E., De Mattos-Arruda, L., Guarneri, V., Hutka, M., Jordan, K., Martinelli, E., Mountzios, G., Ozturk, M. A., Petrova, M., Postel-Vinay, S., Preusser, M., Qvortrup, C., Volkov, M., Tabernero, J., Olmos, D., & Strijbos, M. H. (2017). Professional burnout in european young oncologists: results of the European Society for Medical Oncology (ESMO) Young Oncologists Committee burnout survey. Annals of Oncology: Official Journal of the European Society for Medical Oncology, 28(7), 1590–1596.https://doi.org/10.1093/annonc/mdx196; Burki, T. K. (2020). Burnout among cancer professionals during COVID-19. The Lancet Oncology, 21(11), 1402. https://doi.org/10.1016/S1470-2045(20)30584-2; Murali, K., & Banerjee, S. (2018). Burnout in oncologists is a serious issue: What can we do about it?. Cancer Treatment Reviews, 68, 55–61. https://doi.org/10.1016/j.ctrv.2018.05.009; Maslach, C., Jackson, S., & Leiter, M. (1997). The Maslach Burnout Inventory manual. In C. P. Zalaquett & R. J. Wood (Eds.), Stress: A Book of Resources (Vol. 3, pp. 191–218). The Scarecrow Press.
Fotografia por Jacqueline Day no Unsplash
Neste artigo explicamos em que consiste a Psicologia Positiva, um movimento dentro da Psicologia, e algumas das críticas de que é alvo.
A abordagem de cuidados centrados nas pessoas é uma proposta para a organização dos sistemas de saúde da OMS. Conheça o que a caracteriza.
O suporte social nas redes sociais pode ter vantagens para quem enfrenta um cancro. O que pode predizer o suporte que é recebido nas redes?
O cancro não celebra as festas nem está atento ao calendário. Deixamos algumas sugestões para gerir esta época.