Prevenção do Traumatismo Acústico

O traumatismo acústico é uma lesão do ouvido interno causada pela exposição a ruído. Se a exposição a sons intensos for apenas durante um curto espaço de tempo, pode causar apenas um estado de fadiga auditiva. Normalmente, desaparece num período que pode ir de algumas horas, a alguns dias. Este fenómeno é conhecido por alteração temporária do limiar auditivo. Se a exposição for prolongada, pode provocar o chamado traumatismo acústico.

O principal sintoma é a perda auditiva, causada pela lesão das células sensoriais de Corti, que não tendo capacidade de regeneração, ficam destruídas para sempre. Normalmente, a surdez provocada pelo traumatismo acústico é caracterizada por uma perda auditiva mais acentuada na frequência de 4 kHz. Com o decorrer do tempo, esta perda evolui para as frequências mais agudas e posteriormente para as restantes frequências. Este tipo de surdez provoca, ainda, uma má discriminação da palavra, estando habitualmente associado a problemas de zumbido.

Em casos de traumatismo acústico é muito importante a realização de testes audiológicos, nomeadamente audiometria tonal, para evidenciar o tipo e grau de surdez, assim como a audiometria vocal, para avaliar a perceção da palavra.

Além de outros métodos, hoje existem aplicações de telemóvel disponíveis para medir o nível do som do meio, em dB, para que se possa certificar se o ruído é lesivo ou não.
As situações que propiciam maior risco são:

  • Exposição a equipamentos industriais ruidosos por longos períodos de tempo
  • Exposição contínua a níveis de ruído acima de 85 dB
  • Frequência de concertos musicais e outros eventos com música de alta intensidade
  • Exposição a ruído de armas de fogo
  • Exposição a sons impulsivos (por exemplo, foguetes)

Os fatores que mais contribuem para o aparecimento do traumatismo acústico são: a intensidade do som; a sua frequência (frequências mais agudas são mais prejudiciais); o tempo total de exposição ao som.

A exposição continuada ao ruido, em contexto laboral, pode dar origem a situações problemáticas, como:

  • Acidentes de trabalho
  • Dificuldade de audição adequada de instruções e sinais, por parte dos trabalhadores
  • Distração dos trabalhadores, nomeadamente condutores
  • Agravamento da probabilidade de erros, devido ao stress provocado
  • Favorecimento de outros problemas de saúde (gástricos, cardíacos, psíquicos, enxaqueca, insónia, entre outros)

Em Portugal, as questões relacionadas com a exposição dos trabalhadores aos riscos devidos ao ruído estão descritas no Decreto-Lei 182/2006 de 06 de setembro. Este decreto refere que não é permitida, em situação alguma, a exposição pessoal, diária ou semanal, de trabalhadores a níveis de ruído iguais ou superiores a 87 dB, ou a valores de pico iguais ou superiores a 140 dB.

A entidade empregadora deve garantir uma adequada vigilância médica e audiométrica da função auditiva dos trabalhadores, com o objetivo de detetar precocemente eventuais perdas de audição e tomar medidas no sentido da preservação da sua capacidade auditiva. Devem, ainda, ser usadas metodologias e práticas de trabalho seguras e com potencial de minimizarem a exposição ao ruído e os seus consequentes efeitos. É, ainda, fundamental a formação e motivação dos trabalhadores.

Paralelamente, deve ser fornecida proteção auditiva em situações de exposições iguais ou superiores a 80 dB. A melhor maneira de prevenir o risco de perda auditiva, induzida por ruído, é limitando a sua exposição. Em casos de necessidade de exposição devem ser utilizados protetores de ruido. Os mais aconselháveis são os habilitados com filtros, pois atenuam as frequências que mais lesionam o ouvido, permitindo a passagem das restantes frequências para uma boa audição.

Nas situações de perda auditiva, provocada pelo traumatismo acústico, há sempre a possibilidade de reabilitação com próteses auditivas, ou em casos extremos, recorrendo a implante coclear.

Os problemas provocados por traumatismo acústico não são apenas físicos, mas também psíquicos, levando a estados de ansiedade e depressão. Daí que, as medidas preventivas façam toda a diferença, na redução dos efeitos do ruído na audição, mesmo quando esse som é prolongado ou muito intenso.

Segurança no Trabalho, APSEI. In: https://www.apsei.org.pt/areas-de-atuacao/seguranca-no-trabalho/o-ruido-no-local-de-trabalho/. Créditos de imagem: https://www.newyorker.com/books/under-review/the-noises-we-try-not-to-hear

Fernanda Gentil é Audiologista na Clínica ORL Dr. Eurico Almeida e Coordenadora da Widex Centros Auditivos – Porto. Licenciada em matemática aplicada – ramo de ciência de computadores, pela FCUP. Professora Adjunta do curso de Audiologia, na ESS do Porto. PhD em Ciências de Engenharia pela FEUP. Investigadora e orientadora de teses de Mestrado e Doutoramento, na FEUP. Os seus principais interesses relacionam-se com a Audiologia e Reabilitação Auditiva, assim como simulações matemáticas de modelos computacionais do ouvido. Fernanda Gentil is Audiologist at the ORL Clinic Dr. Eurico Almeida and Coordinator of Widex-Porto. Degree in Applied Mathematics - Computer Science, FCUP. Audiology Professor at ESS, Porto. PhD in Engineering Sciences, FEUP. Researcher and advisor of Master's and PhD theses at FEUP. His main interests are related to Audiology and Auditory Rehabilitation, as well as mathematical simulations of computational models of the ear.