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Ácidos gordos polinsaturados ómega-3, microbiota e cancro

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Os ácidos gordos polinsaturados ómega-3 são considerados ácidos gordos essenciais por não serem sintetizados pelo corpo humano, sendo, por isso, necessário que as necessidades diárias de ómega-3 sejam asseguradas pela dieta.

O consumo de ácidos gordos polinsaturados ómega-3, tem sido associado a múltiplos benefícios para a saúde, com impacto positivo no tratamento e prevenção de diversas doenças, tais como doenças neurodegenerativas, cardiovasculares, inflamatórias e em alguns tipos de cancro.

A composição da microbiota intestinal pode modular a resposta aos tratamentos antineoplásicos, como a quimio e radioterapia. Por outro lado, os tratamentos também influenciam a microbiota intestinal, sabendo-se atualmente que promovem a inflamação intestinal e o stress oxidativo, que são causadores de disbiose e que contribuem para a degradação da função de barreira, promovendo a inflamação, podendo modular a resposta aos tratamentos de imunoterapia e quimioterapia, assim como a toxicidade associada à terapêutica.

As alterações na composição da microbiota intestinal têm sido identificadas em diversos estudos. Confirma-se a diminuição de estirpes de Clostridium, de Faecalibacterium prausnitzii e de Bifidobacterium e aumento de Enterbacteriaceae e Bacteroides, aumento das bactérias Proteobacteria e Verrucomicrobia e redução das Firmicutes, além da redução de bactérias com ação anti-inflamatória F. prausnitzii e Bifidobacterium, após tratamentos de quimioterapia.

Os ácidos gordos ómega-3 podem aumentar a proporção de bactérias benéficas no intestino, como a A. muciniphila, que induz a produção de mucina pelas células de Paneth ou as bactérias Roseburia, Coprococcus, Allobaculum e Butyrivibrio, produtoras de butirato, um ácido gordo de cadeia curta que resulta da fermentação das fibras alimentares pelas bactérias intestinais, com ação anti-inflamatória.

No contexto das doenças oncológicas, intervenções que incluam a ingestão de ómega-3 parecem resultar numa melhor recuperação após quimioterapia e cirurgia, reduzindo a proporção de bactérias produtoras de lipopolissacarídeos, moléculas presentes na parede celular de bactérias gram negativas, e bactérias mucoliticas. A utilização de ómega-3 poderá reduzir a quantidade de Desulfovibrio, E.coli e Bacteroides no intestino, bactérias pouco benéficas se existirem em grandes proporções, promovendo também a síntese de fosfatase alcalina intestinal capaz de destoxificar os lipopolissacarídeos, por desfosforilação.

Outros mecanismos associados aos benefícios dos ácidos gordos polinsaturados ómega-3 na disbiose – alteração na composição da microbiota – induzida pela quimioterapia, são a redução das respostas que favorecem a inflamação e o stress oxidativo.
Para além da melhoria de quadros de disbiose, foi recentemente proposto que estes ácidos gordos essenciais, poderão ter um efeito sinérgico com a imunoterapia na ativação de citocinas tumour-killing, modulando a resposta à imunoterapia.

Tendo em conta os benefícios, é essencial assegurar uma boa ingestão de ómega-3, privilegiando o consumo de alimentos como peixes gordos – salmão, atum, maruca, arenque e sardinha – assim como sementes de chia, linhaça e nozes. A suplementação poderá ser uma boa opção, devendo a sua utilidade ser avaliada pelos profissionais de saúde que acompanham o doente.

[fonte]Referências:Ilag LL. Are Long-Chain Polyunsaturated Fatty Acids the Link between the Immune System and the Microbiome towards Modulating Cancer?. Medicines (Basel). 2018;5(3):102. Published 2018 Sep 10. Zhang Y, Zhang B, Dong L, Chang P. Potential of Omega-3 Polyunsaturated Fatty Acids in Managing Chemotherapy- or Radiotherapy-Related Intestinal Microbial Dysbiosis. Adv Nutr. 2019;10(1):133-147. Helmink BA, Khan MAW, Hermann A, Gopalakrishnan V, Wargo JA. The microbiome, cancer, and cancer therapy. Nat Med. 2019;25(3):377-388. Klein GL, Petschow BW, Shaw AL, Weaver E. Gut barrier dysfunction and microbial translocation in cancer cachexia: a new therapeutic target. Curr Opin Support Palliat Care. 2013;7(4):361-367. Crédito das imagens: rawpixel.com [/fonte]

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