Microbiota intestinal e os primeiros 1000 dias de vida
Os primeiros 1000 dias de vida representam o período no qual se define o que será a microbiota intestinal do adulto. Os primeiros 1000 dias de vida compreendem o período entre a conceção e os primeiros 2 anos de vida e é, nesta altura, que se modulam os alicerces da saúde para toda a vida.
A microbiota intestinal começa a definir-se antes do nascimento, havendo evidência cientifica sugestiva de que a sua programação se inicie durante o desenvolvimento fetal. Na altura do nascimento, o tipo de parto, a idade gestacional na altura do parto, o uso de antibióticos durante e após a gestação e a amamentação ou a sua ausência, são fatores determinantes para o desenvolvimento das bactérias que farão parte da microbiota intestinal da criança. A microbiota intestinal de crianças amamentadas exclusivamente até aos 6 meses é diferente da de crianças alimentadas com fórmula infantil. E estas diferenças mantêm-se mesmo após a diversificação alimentar.
Ao fim do 1º ano de vida, a microbiota intestinal já se assemelha à de um adulto, com prevalência das bactérias Bacteroides e Firmicutes e baixa abundância de Proteobactérias e bactérias gram negativas aeróbias. Será entre os 2 e os 4 anos que ficará definida aquela que será a microbiota intestinal de um adulto e que se manterá estável por cerca de 70 anos.
Microbiota intestinal: factores influenciadores
Apesar de ainda existirem interrogações em relação aos fatores que determinam o perfil da microbiota intestinal nos primeiros anos de vida, os seguintes fatores parecem ter influência:
- Uso de antibióticos. Os antibióticos são usados no tratamento de infeções bacterianas e o seu uso tem impacto nas bactérias que colonizam o intestino.
- Localização geográfica, diretamente associada ao tipo de alimentação e aos hábitos culturais. Alguns estudos têm identificado diferenças nas bactérias mais prevalentes na microbiota intestinal de crianças de diferentes localizações geográficas.
- Presença de animais domésticos.
- Fatores genéticos do hospedeiro. Alguns estudos têm demonstrado que a expressão de alguns genes influencia a constituição da microbiota intestinal.
- Alimentação. O início da diversificação alimentar está associada à diversificação da microbiota intestinal. Por outro lado, o impacto positivo que a ingestão de fibra e que os ácidos gordos polinsaturados n-3, têm na modulação da inflamação através da modulação da microbiota intestinal, tem sido largamente documentado.
- Uso de probióticos. Os probióticos definem-se como microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro.
O uso de probióticos com bactérias como as Saccharomyces boulardii, Lactobacillus rhamnosus GG, Lactobacillus reuteri e Bifidobacterium animalis lactis, poderá ser benéfico na prevenção e gestão de algumas patologias pediátricas. Estas situações incluem diarreia e prevenção de infeções, prevenção de alergias, prevenção de cólicas, prevenção de enterocolite necrotizante em prematuros. A pertinência do uso de probióticos, deverá ser sempre avaliada pelo pediatra que acompanha a criança.