Microbiota intestinal, qual a importância?

A microbiota intestinal humana é constituída por um conjunto de microrganismos que colonizam o intestino e vivem em simbiose com o seu hospedeiro, tais como bactérias, arqueas, vírus e fungos, estimando-se que o total de bactérias chegue a 1013 e 1014 bactérias. O microbioma é o conjunto de genes da microbiota, estimando-se que o microbioma intestinal contenha 150 vezes mais genes que o genoma humano.

Apesar de haver variabilidade inter individual relativamente aos géneros e proporção das bactérias que constituem a microbiota intestinal, algumas semelhanças são identificadas entre indivíduos. Entre de 60% a 90% é constituída pelos filos Bacteroidetes e Firmicutes, sendo os Bifidobacterium, Lactobacillus, Bacteroides, Clostridium, Escherichia, Streptococcus, e Ruminococcus os genera mais comuns em adultos.

Estas bactérias vivem em mutualismo com o seu hospedeiro, contribuindo significativamente para a sua saúde metabólica e imunitária, influenciando diversos processos metabólicos, tais como maturação do sistema imune, metabolismo de nutrientes e fármacos, processos de detoxficação, síntese de vitaminas, desenvolvimento epitelial e regulação de respostas imunes.

A microbiota intestinal é dinâmica, e quando em equilíbrio apresenta benefícios para o seu hospedeiro, tais como síntese e metabolismo de nutrientes, desenvolvimento epitelial e regulação de respostas imunes. Por outro lado, quando em desequilíbrio pode contribuir para o desenvolvimento de patologias tais como doença inflamatória intestinal, doenças metabólicas, diabetes mellitus tipo 2, aterosclerose, esteato hepatite não alcoólica, doenças auto-imunes, alergias, doenças neuropsiquiátricas, entre outras.

A microbiota varia ao longo do trato gastrointestinal. No intestino delgado, as diferenças são encontradas entre as suas frações. No duodeno há predominância de Firmicutes e Actinobacteria, no jejuno de bactérias aeróbias gram-positivas, tais como Lactobacili, Enterococci e Streptococci, na zona proximal do íleo são encontradas maioritariamente espécies aeróbias enquanto que na zona distal predominam organismos anaeróbios gram negativos semelhantes aos que se encontram no cólon. Por outro lado no cólon predominam as bactérias anaeróbias Firmicutes e Bacteroidetes. A proporção entre Firmicutes e Bacteroidetes é considerada um marcador preditivo de saúde e doença.

Microbiota intestinal: variações durante o ciclo de vida

A microbiota intestinal começa a definir-se antes do nascimento, havendo evidência cientifica sugestiva de que a sua programação se inicie durante o desenvolvimento fetal. Durante a idade adulta a microbiota intestinal mantem-se relativamente estável, apesar de suscetível a fatores ambientais e de estilo de vida, tais como, índice de massa corporal, localização geográfica, dieta, stress, idade, sexo, uso de fármacos e em particular de antibióticos, doença, entre outros.

Nos idosos a estabilidade dos microorganismo altera-se, com consequente impacto na função digestiva e neste período a variabilidade inter-individual é maior do que a que se verifica em adultos. Fatores como a redução na capacidade de mastigar os alimentos, redução da motilidade esofágica e orofaríngea, aumento da prevalência de refluxo gastroesofágico, aumento da duração do transito intestinal, com impacto na absorção dos nutrientes e aumento da prevalência de malnutrição, são fatores com impacto negativo na diversidade da microbiota intestinal.

Tendo em conta o impacto que tem na saúde e na doença, a manutenção de um bom equilíbrio da microbiota intestinal ao longo de toda a vida é fundamental.

Referências: Costantini L, Molinari R, Farinon B, Merendino N. Impact of Omega-3 Fatty Acids on the Gut Microbiota. Int J Mol Sci. 2017;18(12):2645. Published 2017 Dec 7; Noriega BS, Sanchez-Gonzalez MA, Salyakina D, Coffman J. Understanding the Impact of Omega-3 Rich Diet on the Gut Microbiota. Case Rep Med. 2016;2016:3089303; Song M, Chan AT. The Potential Role of Exercise and Nutrition in Harnessing the Immune System to Improve Colorectal Cancer Survival. Gastroenterology. 2018;155(3):596-600; Kerr CA, Grice DM, Tran CD, et al. Early life events influence whole-of-life metabolic health via gut microflora and gut permeability. Crit Rev Microbiol. 2015;41(3):326-340; Adak A, Khan MR. An insight into gut microbiota and its functionalities. Cell Mol Life Sci. 2019;76(3):473-493; Vemuri R, Gundamaraju R, Shastri MD, et al. Gut Microbial Changes, Interactions, and Their Implications on Human Lifecycle: An Ageing Perspective. Biomed Res Int. 2018;2018:4178607. Crédito da imagem:  LJNovaScotia por Pixabay

Inês Almada Correia, nutricionista (3684N), pós-graduada em Nutrição em Oncologia pela Universidade Católica Portuguesa, frequenta o mestrado em Bioquímica Médica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Tem colaborado com a Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL) em atividades, tais como workshops sobre alimentação direcionados a doentes hemato-oncológicos. Tem como atuais áreas de interesse e pesquisa a nutrição em oncologia, atividade física em doentes oncológicos e alterações de estilo de vida após o diagnóstico. Inês Almada Correia, nutricionista, has a post-graduate course in Nutrition in Oncology by Universidade Católica Portuguesa and is taking a masters degree in Medical Biochemistry by Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa. Has participated in projects with Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), such as food and nutrition workshops for hemato-oncologic patients. Her main research interests are nutrition in oncology, physical activity in cancer patients and lifestyle changes after diagnosis.