A leitura labial é um processo, nem sempre consciente, de complemento da comunicação. Através da leitura dos lábios é possível perceber melhor o que os outros dizem, principalmente em contextos mais críticos, como sejam locais ruidosos ou quando se fala mais baixo. Mesmo as crianças, aquando da aquisição da linguagem, aprendem naturalmente a leitura labial, integrada na aprendizagem da língua falada.
Algumas pessoas afirmam, até, que “não fazem leitura labial”, mas, em boa verdade, todas recorrem a ela, para melhor processar a informação auditiva que é recebida.
Se assim é para as pessoas que ouvem, para todas as que possuem surdez, a leitura labial é o principal meio de recolha de informação na comunicação, mesmo para utilizadores de próteses auditivas ou implantes cocleares.
Vários estudos mostram que a fala vai ativar áreas cerebrais visuais, criando interações multissensoriais. A representação cortical auditiva relaciona-se com o processamento visual da fala, sendo a evidência percetiva altamente valiosa.
Em 2012, pesquisadores do Instituto Max Planck para Cognição Humana e Ciências Cerebrais referiram a importância duma maior ativação do sulco temporal superior esquerdo, no processo da leitura labial.
Os surdos, geralmente, recorrem mais frequentemente à leitura labial, do que pessoas com audição normal, devido à maior dificuldade em captar a fala, focando mais a sua atenção na boca do falante, treinando, assim, esta competência.
Associado à leitura labial, existem estratégias para ajudar as pessoas com dificuldades auditivas a terem uma melhor perceção, como sejam:
– Falar devagar e declaradamente.
– Não aumentar o volume da voz, pois em certos contextos, pode atribuir um cariz agressivo à conversação.
– Falar de frente para a pessoa, para que esta tenha uma visão total do rosto, percebendo melhor as suas expressões faciais.
– Evitar movimentos laterais da cabeça quando se fala, pois, uma parte do texto perdida pode alterar completamente o contexto da frase.
-Fazer pequenas pausas durante a conversa, permitindo mais tempo para processamento da informação.
Nesta fase de pandemia, em que se tornou necessário o uso de máscara, a comunicação entre pessoas ficou mais dificultada, com maior relevância para o surdo.
As máscaras tradicionais adquiriram vários formatos, com tecidos e materiais diferentes, muitas delas muito imaginativas, mas com o grave problema de provocarem uma barreira ao som, além de impedirem a leitura labial e o “sorriso”. As contingências atuais implicam ainda afastamento entre as pessoas, distanciamento social,que faz com que a voz que chega ao recetor seja de menor intensidade.
Assim, é fundamental a criação de máscaras que permitam, não só a proteção, mas também uma visualização da boca facilitando o processo comunicacional. Neste sentido, o grupo de investigação em Biomecânica do INEGI-FEUP está a desenvolver um protótipo de máscara funcional, recorrendo a materiais que facilitem a respiração, que não embaciem, com eficácia protetora, que ao mesmo tempo permitam a leitura labial e o sorriso que deve ser sempre visto!
[fonte]Referência: BernsteinLE,LiebenthalE: Neural pathways for visual speech perception. Front Neurosci. 8: 386,2014.DOI: 10.3389/fnins.2014.00386; Créditos da imagem:https://livingwithhearingloss.com/2016/04/19/lipreading-in-paradise/[/fonte]