É sempre difícil avaliar de uma forma precisa o sofrimento de outra pessoa. Por isso a única maneira de avaliar o sofrimento é perguntar ao doente. Mas perguntar o quê?
Para responder a esta pergunta decidi ir buscar ao baú um artigo publicado por um professor meu em 1995. O artigo, apesar de já ser velhinho responde perfeitamente à pergunta que coloquei no início.
Segundo o artigo, quando as coisas estão a correr bem, o tempo é percebido como mais rápido do que quando as coisas estão a correr mal. Para se chegar a esta conclusão pediram-se a 295 doentes com cancro avançado e VIH (Vírus da Imunodeficiência Adquirida): “Qual teria sido a percepção da duração da manhã, tarde ou noite?” Se o paciente respondesse “longo”, perguntava-se novamente “longo” ou “muito longo”?; se o paciente respondesse “curto” perguntava-se “curto” ou “muito curto”?
Também se avaliou o estado do doente no momento do inquérito. Daqui resultou a seguinte tabela:
O resultado demonstra que a sensação da percepção do tempo de uma forma lenta por parte de pessoas doentes pode significar grande dor, medo de morte, solidão ou angústia. Perguntar ao doente a percepção que tem do tempo é uma maneira fácil de iniciar uma conversa e isso não causará nenhum sofrimento ou preocupação.
[fonte] Referências: Bayes, R., Limonero, J., Barreto, P., & Comas, M. D. (1995). Assessing Suffering. The Lancet, 346, 1492.Photo by Larm Rmah on Unsplash [/fonte]