A chegada de um novo ano é, invariavelmente, uma oportunidade para nos renovarmos e projectarmos no futuro os nossos maiores anseios. Neste novo ano de 2016 desejemos que a promoção da saúde seja uma missão de todos nós em conjunto e que não seja vista como uma questão individual e da responsabilidade só daqueles que já foram directamente afectados pela doença. Desejemos também que a promoção da saúde seja vista de uma forma mais vasta pois são muitos os factores que contribuem para o aumento daquelas que são actualmente as principais causas de morte prematura no nosso país e todos esses factores devem ser considerados conjuntamente.
Nesta perspectiva e relativamente ao cancro, em particular, uma equipa de investigadores Brasileiros levou a cabo uma pesquisa visando estudar o impacto das campanhas de prevenção do cancro na mobilização, ou imobilização das pessoas para a adopção de hábitos de vida saudáveis e preventivos.
As conclusões do referido estudo sugerem que muitas campanhas ainda conduzem a que se faça uma associação mental do cancro à ideia de morte, bem como à responsabilização de cada pessoa, como se de um problema individual se tratasse. Tais aspectos parecem conduzir a um certo sentimento de impotência e imobilização. Os autores sugerem, pois que as referidas campanhas passem a apresentar o cancro como um problema colectivo e enfatizando as possibilidades de cura, ou seja, desmistificando a ideia de que o cancro é inevitavelmente uma fatalidade.
A importância das campanhas na promoção da saúde e prevenção do cancro
Outro aspecto interessante, mencionado neste estudo, é a sugestão de um maior enfoque das campanhas na importância de cuidarmos de nós mesmos, no sentido de uma maior auto-estima e consequentemente da promoção da saúde e não na perspectiva do evitamento da doença. Se no imediato a diferença parece ténue, na realidade é uma grande diferença na medida em que no primeiro caso a nossa mente está focada na promoção da saúde e no segundo caso está focada na doença, com todas as reacções defensivas que isso pode provocar, nomeadamente, a reacção de negação e evitamento de toda a informação que se relacione com o cancro, pelo facto de a mesma gerar emoções como o medo ou o abatimento provocado pelo sentimento de impotência.
Os investigadores concluem, por fim, que apesar da necessidade de realizar mais estudos similares, na elaboração de campanhas de prevenção do cancro devem ser tidos em conta factores tais como: a representação social do cancro, os níveis de auto-estima dos indivíduos, a relação entre a concepção do problema como sendo individual ou colectivo, as diferenças de género e o carácter ideológico dos slogans. É sem dúvida, uma temática que merece ser mais estudada e reflectida pois não há dúvida de que se trata de um problema que nos afecta todos, directa ou indirectamente e sendo a prevenção tão importante e decisiva é fundamental que seja eficaz.
Assim, pensemos não apenas na prevenção do cancro, em particular, mas sim na promoção da saúde em geral e relativamente a esta última é sempre útil relembrar que a promoção da saúde passa por nos cuidarmos a todos os níveis. Ao nível físico, mental, emocional, espiritual ou existencial e já, agora, cuidarmos de nós a nível social e colectivo, sendo mais interventivos enquanto membros da nossa vasta comunidade. A história humana mostra-nos que sempre que conseguimos sobreviver e prosperar foi porque usámos esta magnifica arma que é a cooperação. Então, que 2016 seja o ano em que nos unimos para reclamarmos o nosso direito à saúde e a uma vida não só mais longa mas sobretudo mais plena de sentido e dignidade.
[fonte]Referências: Ramos, C., Carvalho, J. E. C. D., & Mangiacavalli, M. A. S. C. (2007). Impacto e (i) mobilização: um estudo sobre campanhas de prevenção ao câncer. Ciênc Saúde Coletiva, 12(5), 1387-96. [/fonte]