Em 2005, foi publicado um estudo que indicou que cerca de 50% dos doentes oncológicos europeus recorrem a medicinas complementares e alternativas, no sentido de tratarem a doença. Regimes alimentares como a dieta de Gerson, as dietas alcalinas, a dieta do jejum, as dietas cetogénicas, a dieta dos alimentos crus, entre outras são alguns exemplos de práticas a que os doentes recorrem.
O regime de Gerson é uma das práticas nutricionais alternativas mais antigas no tratamento do cancro (1945), tendo sido desenvolvida pelo médico alemão Max Gerson, inicialmente aplicada a outras doenças.
É considerado uma terapêutica metabólica e baseia-se na teoria de que o cancro é causado pela acumulação de substâncias tóxicas no organismo, além de um teor celular elevado em sódio e baixo em potássio. De acordo com os defensores, este tipo de tratamento deve ser continuado por meses ou anos até a doença estar curada, com a recomendação mínima de 2 anos.
O regime de Gerson envolve soluções com água e café preparadas especialmente para lavagens intestinais, suplementos, sumos e uma dieta especial que é referida como capaz de “limpar” o organismo, melhorar os sistema imunitário e estimular o metabolismo. Os enemas de café são aconselhados para aliviar as dores e eliminar as toxinas acumuladas no fígado. Para “estimular o metabolismo”, são aconselhados extratos de fígado, de enzimas pancreáticos, de hormonas da tiróide e vários suplementos. A dieta é rica em frutas e legumes, de modo a corrigir os teores de sódio e potássio e “revitalizar” o fígado.
Basicamente, requer uma dieta vegetariana baixa em sal e gordura, com uma ingestão diária de sumos naturais correspondente a cerca de 9 quilos de fruta e legumes frescos, distribuídos por hora a hora, até 13 vezes por dia. Quanto aos enemas, devem ser 5 por dia.
Segundo a American Cancer Society, trata-se de uma prática perigosa, já que os enemas de café têm sido associados a infeções sérias, desidratação, obstipação, inflamação do cólon, distúrbios eletrolíticos e, até mesmo, morte. Neste sentido, trata-se de um regime não aprovado nos Estados Unidos da América, até porque não existe evidência científica que sustente as afirmações divulgadas pelos defensores desta prática para tratamento do cancro.
Em 1990, o National Cancer Institute examinou os processos dos doentes de Max Gerson e não encontrou qualquer evidência na eficácia deste método para o tratamento do cancro.
Uma revisão de 2014 dos estudos realizados refere que os mesmos apresentam metodologias questionáveis e amostras pequenas, dificultando qualquer conclusão com validade científica suficiente para ser tida em consideração. Além disso, parte do regime de Gerson, como a ingestão de uma dieta rica em frutas e legumes e uma ingestão controlada de gordura, pode fazer parte de uma dieta saudável, mesmo não sendo levada ao extremo respeitante a este tipo de prática.
Dado que o regime de Gerson não apresenta benefícios com validade científica no tratamento do cancro e uma vez que apresenta alguns riscos, Huebner e os seus colegas (2014) referem que o mesmo não deverá ser recomendado e que os doentes não devem basear unicamente o seu tratamento em qualquer tipo de dietas ou formas de tratamento alternativas, atrasando ou omitindo as modalidades de terapêutica anticancerígena convencional.
Além disso, os autores, tal como em muitos outros trabalhos publicados, referem que todos os doentes oncológicos devem ser orientados e acompanhados por um nutricionista, como parte integrante da equipa multidisciplinar, assegurando-se uma ingestão de macro e micronutrientes suficiente para cada situação, um controlo da sintomatologia com impacto nutricional pela doença em si ou pelos tratamentos, bem como o esclarecimento sobre as diversas dietas anunciadas como tendo um papel terapêutico em oncologia.
[fonte] Referências: American Cancer Society. http://www.cancer.org. Acedido em maio/2015. Huebner J, Marienfeld S, Abbenhardt C, Ulrich C, Muenstedt K, Micke O, Muecke R, Loeser C. Counseling patients on cancer diets: a review of the literature and recommendations for clinical practice. Anticancer Res. 2014; 34(1): 39-48. Molassiotis A, Fernadez-Ortega P, Pud D, Ozden G, Scott JA, Panteli V, Margulies A, Browall M, Magri M, Selvekerova S, Madsen E, Milovics L, Bruyns I, Gudmundsdottir G, Hummerston S, Ahmad AM, Platin N, Kearney N, Patiraki E. Use of complementary and alternative medicine in cancer patients: a European survey. Ann Oncol. 2005; 16(4): 655-663. Fontes de imagens: http://salud.facilisimo.com/jugoterapia; http://cateringveg.altervista.org/blog/intervista-charlotte-gerson/ [/fonte]