A dieta cetogénica no tratamento do doente oncológico
Uma das alterações que se observam nas células cancerígenas é o aumento da taxa do metabolismo que ocorre à custa da glicose.
Embora se tenha pensado que a captação aumentada deste hidrato de carbono pelas células tumorais fosse uma forma de assegurar o crescimento tumoral e o aumento das necessidades energéticas, estudos recentes apresentam outra justificação. Trabalhos atuais sugerem que este aumento do consumo de glicose representa uma adaptação para as células escaparem ao desequilíbrio entre a produção de compostos químicos nocivos resultantes do seu metabolismo e a sua desintoxicação (stress oxidativo). Assim, esses dados suportam a hipótese de que as células cancerígenas aumentam o consumo de glicose para manter um equilíbrio que permita a sua sobrevivência. A estas conclusões junta-se o facto de, nas células saudáveis, o mesmo não acontecer, o que tem suscitado interesse como forma de aumentar a sensibilidade das células cancerígenas aos tratamentos.
Com base nestes dados, pensa-se que a adoção de uma alimentação rica em gordura e pobre em hidratos de carbono, por aumentar o stress oxidativo e por diminuir o consumo de glicose, parece poder ser uma forma segura, barata, facilmente implementável e efetiva para aumentar a sensibilidade das células cancerígenas aos tratamentos sem prejudicar as células saudáveis.
O que é uma dieta cetogénica?
A uma alimentação rica em gordura, moderada ou baixa em proteína e muito baixa em hidratos de carbono dá-se o nome de dieta cetogénica, a qual força o organismo a queimar a gordura, em vez da glicose, para a produção de energia. Geralmente, na dieta cetogénica, a relação em peso entre os macronutrientes é de 3:1 ou 4:1 de gordura para a soma de hidratos de carbono e proteína, levando a uma alimentação com uma distribuição de energia de cerca de 8% de contribuição das proteínas, de 2% dos hidratos de carbono e de 90% de gordura.
A dieta cetogénica origina a produção de corpos cetónicos, daí a sua designação, tem sido recentemente estudada como adjuvante no tratamento oncológico em animais e humanos. Já em 1987, um estudo demonstrou uma diminuição do tumor e uma melhoria do quadro de desnutrição em animais submetidos a este tipo de dieta.
Outros estudos realizados em animais mostraram uma redução do crescimento do tumor e um aumento da sobrevivência em casos de glioma e cancros do cólon, do estômago e da próstata com uma dieta com as características referidas.
Além disso, uma dieta cetogénica parece potenciar os efeitos da radioterapia, em situações de glioma e de carcinoma do pulmão de células não pequenas, também em modelos animais. O jejum também induz um aumento dos corpos cetónicos e parece aumentar a resposta à quimioterapia em animais, atrasando o crescimento das células cancerígenas e aumentando a sensibilidade das mesmas ao tratamento referido. Parece ainda melhorar alguns dos efeitos secundários observados com tecidos normais devido a este tratamento.
Um estudo sobre a qualidade de vida em doentes com cancro em estadios avançados verificou, ainda, uma melhoria da gestão emocional e uma redução da frequência de insónias com a prática de uma dieta cetogénica.
Assim e através das diferenças no metabolismo entre células cancerígenas e saudáveis, a implementação de uma dieta cetogénica pode representar uma intervenção nutricional importante que poderá melhorar os resultados terapêuticos, mediante o aumento do stress oxidativo em células tumorais.
Embora o mecanismo através do qual uma dieta cetogénica tem um papel anticancerígeno quando combinada com quimio e/ou radioterapia ainda não esteja totalmente esclarecido, alguns estudos em animais mostram que é segura e eficaz no tratamento oncológico. Atualmente, estão a decorrer alguns estudos em humanos, pelo que aguardaremos pelos resultados para uma intervenção nutricional eficaz.
Fontes de imagens: http://healthyprotocols.com/2_ketogenic.htm; https://backushospital.org/archives/2012/06/backus-hospital-offers-cancer-support-group/