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Radioterapia pélvica: importância da nutrição

Radioterapia pélvica: importância da intervenção nutricionalA radioterapia pélvica ou abdominal é um tratamento oncológico aplicado a doentes com tumores ginecológicos, da próstata, do intestino, entre outros localizados na região abdominal.

De acordo com a localização do tumor e as características individuais, as características da radioterapia a aplicar podem variar, tendo um impacto diferente na possibilidade de aparecimento de sintomas gastrintestinais e na natureza e no padrão desses sintomas.

Dos doentes submetidos a radioterapia pélvica, 11-33% estão desnutridos antes do tratamento, 83% perde peso durante o mesmo, 80% irá desenvolver sintomas gastrintestinais durante a radioterapia e 50% apresentará sintomatologia crónica, a qual afeta a qualidade de vida dos doentes.

Os sintomas mais comuns que surgem durante e após a radioterapia pélvica são o aumento da frequência de defecação, a urgência em evacuar, a alteração na consistência das fezes, as alterações dos hábitos intestinais, a dor, as perdas de sangue, a flatulência e as náuseas. Além disso, quando a quimioterapia é associada, aumenta a probabilidade de ocorrência de sintomas.

A radioterapia pélvica pode causar danos gastrintestinais, prejudicando o estado nutricional dos doentes, por alterações na estrutura e na função dos intestinos.

Por seu lado, o estado nutricional influencia a tolerância ao tratamento e, logo, a conclusão do mesmo; a desnutrição está associada a um maior risco de aparecimento de sintomas responsáveis por interrupções no tratamento de radioterapia e na inconclusão da quimioterapia. A duração do tratamento é importante e interrupções estão associadas a que o tumor volte a aparecer e a uma menor sobrevivência.

Antes do início da radioterapia pélvica e durante a mesma, é desejável que o doente tenha acesso a uma consulta de nutrição onde, consoante o estado nutricional e a sintomatologia apresentada, o nutricionista procederá em consonância. Vários estudos sugerem que a intervenção nutricional contribui para uma melhoria do estado nutricional, para a redução de efeitos secundários a curto e a longo prazo e para uma maior probabilidade do doente completar o tratamento como planeado. Esta intervenção envolve o aconselhamento dietético (modificação dietética em fibras, lactose, gordura e/ou enriquecimento nutricional e energético), o recurso a suplementos orais ou a nutrição artificial.

Sabe-se que, durante a radioterapia pélvica e além dos sintomas que, eventualmente, já existiam, pode surgir intolerância à lactose (15-44%), crescimento de bactérias no intestino delgado (26%) e malabsorção de ácidos biliares (44-57%), pelo que a intervenção deverá ser adequada aos sintomas e diagnósticos existentes. Atualmente, é comum haver indicação para o doente a ser submetido a radioterapia pélvica ter uma dieta pobre em fibras, para prevenir a diarreia, sintoma muito frequente. Contudo, num trabalho publicado em 2000, os resultados foram contra esta recomendação. O autor não abordou a intervenção nutricional na visão preventiva da diarreia mas sim implementada apenas caso e quando esta surgisse, além de não ter reduzido a fibra total da dieta mas sim aumentado a ingestão de fibra solúvel, através de um agente rico na mesma. Os resultados indicaram uma melhoria dos sintomas gastrintestinais.

Num artigo de revisão de 2013, verificou-se a inexistência de dados sobre a influência da intervenção nutricional nos sintomas gastrintestinais crónicos, na toxicidade, no internamento hospitalar não planeado até 3 meses após o início do tratamento, no reaparecimento da doença e na mortalidade. Além disso, concluiu-se que não existiam dados suficientes e credíveis que permitissem uma análise concreta do efeito e do tipo de intervenção, havendo necessidade de mais estudos. Todavia, os autores concluíram que a intervenção nutricional é necessária, pois os resultados indicaram que os doentes sujeitos à mesma apresentaram uma redução da diarreia durante o tratamento, comparativamente a doentes aos quais não houve intervenção.

[fonte] Referencias: Andreyev J. Gastrointestinal complications of pelvic radiotherapy: are they of any importance?. Gut 2005;54(8): 1051–4. Andreyev J. Gastrointestinal symptoms after pelvic radiotherapy: a new understanding to improve management of symptomatic patients. The Lancet Oncology 2007;8(11): 1007–17. Fernández-Bañares F, Villá S, Esteve M, Roca M, Cabré E, Abad-Lacruz A, et al.Acute effects of abdominopelvic irradiation on the orocecal transit time: its relation to clinical symptoms, and bile salt and lactose malabsorption. American Journal of Gastroenterology 1991;86(12):1771–7.  Henson CC, Burden S, Davidson SE, Lal S. Nutritional interventions for reducing gastrointestinal toxicity in adults undergoing radical pelvic radiotherapy. Cochrane Database Syst Ver. 2013; 26: 11:CD009896. doi: 10.1002/14651858.CD009896.pub2. McGough C, Baldwin C, Frost G, Andreyev HJN. Nutritional interventions for reducing gastrointestinal toxicity in adults undergoing radical pelvic radiotherapy. Role of nutritional intervention in patients treated with radiotherapy for pelvic malignancy. British Journal of Cancer. 2004; 90(12):2278–87. Wedlake L, Thomas K, McGough C, Andreyev HJN. Small bowel bacterial overgrowth and lactose intolerance during radical pelvic radiotherapy: an observational study. European Journal of Cancer 2008;44(15):2212–7. Wedlake LJ, Thomas K, Lalji A, Blake P, Khoo V, Tait D, et al.Predicting late effects of pelvic radiotherapy: is there a better approach?. International Journal of Radiation Oncology Biology Physics 2010;78(4):1163–70. Fonte das imagens: http://mais.com.vc/?p=299 [/fonte]

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