Muitos doentes sofrem por causa de “distorções cognitivas“. Os pensamentos estão vinculados às emoções e comportamentos e podem ser classificados como reflexivos e automáticos. Os reflexivos são mais lentos, profundos e implicam esforço mental. Os automáticos são mais rápidos e surgem espontaneamente, de acordo com cada situação. Por estarem associados a um raciocínio superficial, os pensamentos automáticos, tem maior probabilidade de apresentar erros de lógica. Alguns exemplos de pensamentos automáticos disfuncionais:
HIPERGENERALIZAÇÃO – Se for verdade num caso, aplica-se a todos os casos. Mesmo que seja verdade no passado, será sempre assim. A pessoa vê um único evento negativo como um padrão de derrota que nunca vai terminar. “Eu tenho um cancro, a minha vida nunca mais vai ser a mesma”; “Nunca mais vou ser feliz”.
MAGNIFICAÇÃO E MINIMIZAÇÃO – Características e experiências negativas são maximizadas enquanto as positivas são minimizadas. Super-valorizar ou desvalorizar a importância de um atributo pessoal, evento ou uma possibilidade futura. “Toda a gente está a lidar melhor com a doença do que eu, só acontece a mim”; “Esta tosse seca significa que estou morrer de cancro”.
PENSAMENTO DICOTÓMICO OU POLARIZAÇÃO – Perceber as experiências pessoais em apenas duas categorias extremas e excludentes. Perceber as situações em termos absolutos. Branco ou preto. Oito ou oitenta. Tudo ou nada. “Se eu não conseguir ficar curado, não vale a pena fazer nada, mais vale morrer já; “Ninguém gosta de mim”.
ATENÇÃO SELECTIVA – Um aspecto de uma situação complexa é foco da atenção, enquanto outros aspectos relevantes da situação são ignorados. “Vou-me sentir muito mal com os efeitos secundários do tratamento”; “Eu estou gorda, sou uma pessoa horrível”.
CATASTROFIZAÇÃO – Acreditar que o que ocorreu ou que poderá acontecer será terrível, intolerável ou insuportável. “Eu sei que este tratamento não irá funcionar”; “Eu não serei capaz de lidar outra vez com a doença se o cancro voltar”.
INFERÊNCIA ARBITRÁRIA OU LEITURA MENTAL – Chegar a uma conclusão sem evidências adequadas. Pensar, sem evidências, os que os outros poderão estar a pensar, desconsiderando outras hipóteses também possíveis. “Eles vêem-me como se eu estivesse a morrer”; “Ele está a desprezar-me porque percebeu que tomo medicamento para a depressão”.
ROTULAÇÃO – Avaliação global de uma pessoa ou situação através de estereótipos e desconsiderando as características específicas de cada caso. Colocar um rótulo global e rígido em alguém ou situação ao invés de avaliá-los como um todo. “Eu sou um idiota”; “Não há solução, ele é um caso perdido”.
DECLARAÇÃO DE OBRIGATORIEDADE (PODER, DEVER E PRECISAR) – Interpretar eventos em termos de como as coisas deveriam ser, ao invés de focar como eles são. “ Eu tentei viver uma vida boa, eu não deveria ter tido cancro”; “Para ser feliz, necessito da aceitação de todos”.
PERSONALIZAÇÃO – Assumir como responsável por alguma situação externa quando na verdade são outros os factores responsáveis. “Os meus amigos talvez não me vêem visitar-me porque eu tenho um cancro”; “Ele está distante, devo ter feito algo de errado”.
Tendo maior consciência destes pensamentos automáticos disfuncionais, o doente poderá intervir, e assim, evitar sofrimento emocional e prejuízo comportamental.