Artigo convidado de Ana Paula Figueiredo, Enfermeira, sobre a necessidade de um tratamento cuidadoso e individualizado na doença oncológica.
Com o atual progresso científico, desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico e com a descoberta de novos tratamentos, a sobrevida dos doentes com cancro tende a aumentar, aumentando também o tempo de internamento, o número de recaídas e consequentemente as patologias psicológicas associadas.
Os tratamentos efetuados aos doentes oncológicos encontram-se submetidos a variadas significações e no seu processo de reflexão, o doente tem em conta, os danos e as ameaças em relação ao futuro assim como os possíveis ganhos que se relacionam com a situação.
Sabemos que o tratamento cirúrgico, por vezes representa mutilação, especialmente se esta se relacionar com a mama, face, órgãos genitais, membros ou perda de funções intestinais, urinárias e perda de voz. A perda de autonomia e o desfiguramento perturbam o doente e a família, assim como o sentimento de “fardo” por parte do doente e o aspeto repulsivo que por vezes apresenta.
A necessidade de efetuar quimioterapia significa muitas vezes, a possibilidade de tratamento da doença, proporcionando uma nova cura, no entanto, para a maioria dos doentes a notícia deste tratamento é recebida como assustadora, podendo significar recidiva ou metastização. Também os efeitos colaterais da quimioterapia exercem a sua influência na representação do tratamento, uma vez que estes provocam uma grande variedade de sintomas físicos e alterações da imagem corporal.
O significado atribuído ao tratamento de radioterapia é muitas vezes influenciado por acontecimentos que nada se relacionam com a doença ou com o próprio tratamento. Os horrores relativos à radiação foram e, ainda são influenciados por o lançamento da primeira bomba nuclear em Hiroshima em 1945 e, posteriormente por o controle inadequado de reatores nucleares em Chernobyl. Estes dois acontecimentos provocam muitas vezes medo dos efeitos da radiação, mesmo que seja utilizada com fins terapêuticos.
A ideia de queimaduras dolorosas provocadas pela radioterapia, emissão de radiação excessiva e receio de tornar-se radioativo representando perigo para os outros, são razões que contribuem para o medo destes tratamentos e consequentemente para o significado que lhes é atribuído.
A nível familiar, o facto de se descobrir uma doença crónica em determinado indivíduo promove o aparecimento de problemas psicológicos tanto nesse indivíduo como nos que o rodeiam, particularmente na sua família. Os familiares dos doentes oncológicos têm demonstrado uma sobrecarga emocional associada ao cuidado com tendência a diminuir ao longo do decurso da doença. Constata-se também uma enorme tristeza, nervosismo e frustração no período pós-diagnóstico de doença oncológica e, com o passar do tempo verifica-se a existência de um processo adaptativo que tende a promover uma diminuição da sobrecarga no núcleo família.
Todas estas situações / representações da doença oncológica promovem a necessidade de um tratamento cuidadoso e individualizado quer do doente, quer da sua família e/ou amigos.
Ana Paula Figueiredo
Enfermeira especialista em saúde mental e psiquiatria
Mestre em Educação para a saúde