Nunca há tempo para se ter tempo para sermos nós
É tudo demasiado fugaz
São apenas momentos de lágrimas
Que nos caem pela pele branca
E se aninham finalmente nos nossos finais de dia.
O dia hoje acabou mais cedo
Acaba sempre quando a Primavera
se esquece de o provar.
De lhe sentir o trago.
E nós nunca temos tempo
O relógio da sala é demasiado célere
no seu aprisionar das horas
E eu ouço-o tocar todas as badaladas à uma.
Assim é mais rápido e mais eficaz
diz-me ele, como para se desculpar,
e continua o compasso de espera,
de espera pela palavra
que ainda não expeliste…
E eu pensei que seria hoje finalmente.
Enganaste-me de novo.
Nunca há tempo, dizes tu
E calças as luvas,
aquelas luvas negras que te ofereci naquela
madrugada em que me trincaste os dedos.
Afastas-te de novo.
Eu sei que voltas, grito-te eu
Desesperada pela palavra que me negas
O sentimento que me escondes,
As portas em ti que me fechas.
E tu murmuras…
Volto sempre, amor.
Volto sempre quando julgas que poderás
Repousar nos ponteiros do relógio da sala.
Autor Desconhecido