Uns pelos outros na comunicação no cancro

Basta haver duas pessoas numa sala vazia para existir comunicação. Mesmo sem usar palavras estamos a comunicar. As mensagens que transmitimos nem sempre vão de encontro àquilo que queremos passar, mas somos responsáveis por tentar que o façam. Na relação entre o cuidador informal e a pessoa com cancro devemos agir uns pelos outros tentando que a comunicação ocorra eficazmente para assegurar, dentro do possível, o bem-estar de ambas as partes, por isso deixamos algumas sugestões.

A comunicação é mais do que simplesmente a passagem de mensagens entre pessoas. Ela pode ser definida como todos os elementos observáveis na interação humana . Consequentemente, abarca todas as formas de passar informação, a linguagem verbal (palavras, frases) a linguagem não verbal, e os comportamentos (o que escolhemos vestir, a louça que deixamos empilhada para que outra pessoa a arrume). A comunicação influencia e é influenciada pela forma como nos relacionamos.

Uma  relação define-se pela interação duradoura e repetida ao longo do tempo entre duas pessoas. Contudo, as relações que estabelecemos uns com os outros têm diferentes estatutos. Assim, elas podem ser de vinculação, implicando segurança mútua, como as relações românticas, relação parental, relação com um elemento mais velho, ou afiliações caracterizadas pela aliança, como a amizade, relações de trabalho, e parentesco. O tipo de relação que estabelecemos desenha a comunicação que adotamos com as pessoas. Tipicamente, a relação entre um cuidador informal e uma pessoa com cancro é de proximidade relacional (cônjuges, filhos ou irmãos). Logo, este estatuto pode interferir na comunicação entre ambos, quer seja favoravelmente numa postura de partilha, ou desfavoravelmente numa postura de medo que a outra parte se aborreça, ou fique triste ou zangada.

Sugestões que podem facilitar a comunicação

Temos de ser uns pelos outros na comunicação numa experiência de cancro para tentar que esta decorra com sucesso. Além de temas mais triviais do dia-a-dia (e.g., onde ir jantar), a comunicação entre uma pessoa cuidada e um cuidador pode ser mais desafiante por envolver tópicos delicados ligados ao diagnóstico e tratamento da doença e à partilha de estados emocionais desagradáveis entre ambos.

Assim, podemos acautelar as seguintes sugestões quando comunicamos:

  • Pensar na mensagem que queremos transmitir
  • Sentir o que a mensagem ativa emocionalmente em nós e possivelmente na outra pessoa (alegria, raiva, medo, …)
  • Avaliar se é necessário gerir a nossa emoção quando passar a mensagem (evitar falar alto)
  • Avaliar qual o momento mais adequado para passar a mensagem – por exemplo , e sei que depois de um tratamento a pessoa doente está cansada pode ser melhor escolher outro momento
  • Escutar o que a outra pessoa tem para dizer, o tom de voz que usa
  • Observar a linguagem não verbal da outra pessoa, se  indica que está tensa, relaxada
  • Falar de forma clara com uma linguagem que a pessoa perceba
  • Esclarecer o que dizemos e o que nos disseram – reformular o seu discurso e pedir validação.
Referências: Reis, H. T. (2001). Relationship experiences and emotional wellbeing. In C. D. Ryff & B. H. Singer (Eds.), Emotion, Social Relationships and Health (pp. 57–95). Oxford University Press.; Watzlawick, P., & Beavin, J. (1967). Some formal aspects of communication. American Behavioral Scientist10(8), 4-8. https://doi.org/10.1177/0002764201000802;Weiss, R. S. (1998). A taxonomy of relationships. Journal of Social and Personal Relationships, 15(5), 671–683. https://doi.org/10.1177/0265407598155006;Fotografia por Kelly Sikkema  no Unsplash

Carolina Blom é psicóloga (Nº OPP: 25152), mestre em Psicologia com especialização em Clínica e Saúde pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. Atualmente é estudante de doutoramento na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, onde investiga sobre a qualidade de vida do cuidador informal da pessoa com doença oncológica. No seu percurso académico e profissional trabalhou com adultos maiores institucionalizados, estudantes do 1º ciclo, encarregados de educação, professores e auxiliares e crianças e jovens em risco. O seu interesse na prestação de cuidados às pessoas com doença oncológica despertou durante a experiência enquanto voluntária no acompanhamento de doentes e das suas famílias e, posteriormente, pela experiência pessoal enquanto cuidadora informal. Usa o novo acordo ortográfico. Carolina Blom is a psychologist (License Nr: 25152) and has a master’s degree in Psychology with a specialization in Clinical and Health from the Faculty of Education and Psychology of the Catholic University of Portugal. Currently, she is a PhD student at the Faculty of Psychology and Educational Sciences of the University of Porto, where she researches about the quality of life of the informal cancer caregiver. In her academic and professional path, she worked with older adults, primary school students, teachers, educators, and children and young people at risk. Her interest in cancer caregiving arose during her experience as a volunteer in the care of patients and their families and later through her personal experience as an informal caregiver.