Presbiacusia e demência: como atuar na perda auditiva do idoso

Presbiacusia é o tipo mais comum de perda auditiva neurossensorial, causada pelo envelhecimento natural do sistema auditivo.

Estima-se que 30 a 40% das pessoas com mais de 65 anos têm presbiacusia. Ocorre gradualmente, em ambos os ouvidos, afetando, inicialmente, a capacidade de ouvir sons mais agudos, progredindo posteriormente para sons de frequências mais baixas. As pessoas ouvem, mas começam a ter mais dificuldades na perceção da palavra, pois no meio duma conversação não conseguem discriminar certos sons, como se as frases ficassem entrecortadas. A tendência, nestes casos, é deduzir o que não se ouviu, muitas vezes erradamente, levando a interpretações menos corretas.

Na maioria das vezes, a presbiacusia afeta a capacidade de ouvir sons agudos, como o toque do telemóvel ou o “bip” de um micro-ondas. As conversas ficam mais difíceis de entender em cafés, restaurantes, ou outros locais em que haja ruído de fundo. Por causa da mudança gradual na audição, algumas pessoas só tardiamente assumem a dificuldade auditiva.

As causas mais comuns de presbiacusia são distúrbios do ouvido interno ou  mudanças complexas ao longo das vias nervosas, podendo ser de ordem: sensorial (distúrbios das células ciliadas externas da cóclea nas altas frequências); neural (degeneração dos neurónios cocleares); metabólica (atrofia da estria vascular); mecânica (rigidez da porção basal da cóclea) ou ainda por alterações no processamento auditivo central. Existem, ainda, alguns fatores que podem agravar o aparecimento da presbiacusia, como sejam a exposição prolongada a sons muito altos (como música ou ruído relacionado com o trabalho), algumas doenças cardíacas ou diabetes, ou, ainda, efeitos colaterais de alguns medicamentos.

O diagnóstico da presbiacusia deve ser feito por profissionais de saúde: otorrinolaringologistas e/ou audiologistas que avaliando a audição, a partir dos resultados dos testes auditivos, determinam qual a melhor estratégia de atuação.

As opções de tratamento incluem a adaptação de aparelhos auditivos, o recurso a dispositivos que convertem a fala em texto e, ainda, treino em leitura labial.

A medida preventiva mais adequada para a presbiacusia é evitar a exposição a ruídos altos, através do uso de protetores de ouvido, com filtros. Como não é uma condição reversível, a prevenção é muito importante.

Dado que a presbiacusia afeta as atividades físicas, cognitivas, emocionais, e consequentemente o funcionamento social, a qualidade de vida dos pacientes deteriora-se, surgindo sintomas como a depressão, isolamento social e redução da autoestima.

A deficiência auditiva periférica relacionada com a idade é prevalente, tratável e pode ser um fator de risco para a demência em idosos. A associação da deficiência auditiva com a demência favorece o declínio cognitivo, comprometendo a memória, a velocidade percetiva e o processamento auditivo.

Estudos recentes com o auxílio de ressonâncias magnéticas cerebrais demonstram uma diminuição da cognição a cada 10 dB de redução da audição, associada à perda mais acentuada do volume do lobo temporal.

O risco de desenvolver demência duplica para idosos com perda auditiva ligeira, e triplica para os que têm perda auditiva moderada. Nos casos de perda severa, o risco é cinco vezes superior em relação aos que não sofrem de perda auditiva.

O uso de aparelhos auditivos, favorecendo a estimulação das vias auditivas, revela-se a solução mais adequada para contrariar o declínio cognitivo.

Referência:Deal, JA, Betz, J, Yaffe, K, Harris, T, Purchase-Helzner, E, Satterfield, S, Pratt, S, Govil, N, Simonsick, EM, Lin, FR. Hearing Impairment and Incident Dementia and Cognitive Decline in Older Adults: The Health ABC Study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 72(5) :703-709, 2017. doi: 10.1093/gerona/glw069.;Créditos de imagem: https://www.kind.com/en-sg/magazine/how-we-hear/hearing-loss-in-old-age/

Fernanda Gentil é Audiologista na Clínica ORL Dr. Eurico Almeida e Coordenadora da Widex Centros Auditivos – Porto. Licenciada em matemática aplicada – ramo de ciência de computadores, pela FCUP. Professora Adjunta do curso de Audiologia, na ESS do Porto. PhD em Ciências de Engenharia pela FEUP. Investigadora e orientadora de teses de Mestrado e Doutoramento, na FEUP. Os seus principais interesses relacionam-se com a Audiologia e Reabilitação Auditiva, assim como simulações matemáticas de modelos computacionais do ouvido. Fernanda Gentil is Audiologist at the ORL Clinic Dr. Eurico Almeida and Coordinator of Widex-Porto. Degree in Applied Mathematics - Computer Science, FCUP. Audiology Professor at ESS, Porto. PhD in Engineering Sciences, FEUP. Researcher and advisor of Master's and PhD theses at FEUP. His main interests are related to Audiology and Auditory Rehabilitation, as well as mathematical simulations of computational models of the ear.