Aspetos psicológicos na comunicação com o doente com cancro

A relação entre fatores emocionais e o cancro é muito antiga. Mas é a partir dos anos 60 que esta temática tende a desenvolver-se. Nesta década o nome de Kubler-Ross surge chamando a atenção dos profissionais de todo o mundo. Passa-se a dar mais atenção aos aspetos psicológicos das pessoas com doenças graves, aos seus sofrimentos e também à forma de os ajudar.

Atualmente o doente com cancro já não tem o estigma social semelhante a uma doença infeciosa como acontecia no século XIX, embora continue a ser associada a uma doença má, que cresce e destrói.

O diagnóstico de cancro não é de imediato associado a uma sentença de morte. Tudo depende do estádio da doença, do tipo de diagnóstico, dos órgãos afetados e também da pessoa: idade, estado nutricional, imunidade, experiências vividas, crenças, valores e modo de reagir.

A comunicação entre profissionais de saúde e doente deve acontecer num ambiente calmo e acolhedor, com frases breves, mensagens simples, vocabulário percetível e numa relação de empatia.

As verdades devem ser ditas, mas as verdades possíveis, de acordo com o que o doente tolerar e desejar saber.

Numa primeira conversa, frequentemente quando é comunicado o diagnóstico é comum que a ansiedade e a falta de concentração do doente o impeçam de perceber e assimilar a informação que lhe está a ser fornecida.

Poderá ser necessário repetir a mensagem diversas vezes. Isto é importante principalmente se a decisão terapêutica estiver dependente desta conversa.

Se a conversa for verdadeira, efetuada com sensibilidade e empatia, dando sempre a entender que algo vai ser feito e que nunca o doente irá ser abandonado, a mensagem será recebida com mais calma. O diagnóstico tende a surgir como um acontecimento de vida. Irá implicar com a gestão de um turbilhão de emoções, mas irá também mobilizar todos os recursos e capacidades da pessoa para lhe fazer frente.

Na realidade algumas pessoas, geralmente com personalidades mais corajosas e afirmativas encaram o cancro como um desafio ou como um inimigo que se propõem enfrentar usando as armas/tratamentos disponíveis. No entanto outros aceitam o diagnóstico e entregam-se ao papel de doentes numa atitude passiva e outros ainda procuram uma causa, uma infeção, um traumatismo ou ainda um profissional de saúde que porventura não tenha atuado com eficácia a dada altura da sua vida, atribuindo-lhe toda a culpa.

De qualquer modo e face à doença, os sentimentos depressivos e ansiosos podem ocorrer em qualquer estádio da doença.

Para que as respostas adaptativas à doença tenham sucesso é importante que os profissionais de saúde sejam fixos, uma vez que isto lhes permite conhecer melhor o doente, as suas reações e emoções. Haja toda uma relação de continuidade e confiança a ser respeitada para que se verifique maior sentido de segurança e bem-estar do doente face á sua situação e á sua confiança nos profissionais de saúde.

E finalmente que a comunicação se faça de forma assertiva, num ambiente calmo e confortável.

Referências: Pereira, M. & Lopes, C. (2002). O doente oncológico e sua família. Climepsi Editores; Paúl, C. & Fonseca, A. (2001). Psicossociologia da Saúde. Climepsi Editores.

Ana Paula Figueiredo, natural da Trofa é Licenciada em Enfermagem e Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria pela Escola Superior de Enfermagem do Porto. Mestre em Educação, área de especialização em Educação para a Saúde pela Universidade do Minho. Actualmente exerce a sua actividade profissional na área da oncologia, no Porto. É Coordenadora do workgroup de Educação para a Saúde da Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa. Co-autora do projecto “Com um conto acrescento um ponto à minha saúde” e do Concurso “Com uma história conquisto uma vitória” é também autora de vários artigos científicos na área da oncologia e de histórias infantis na área da educação para a saúde. Colaboradora do Stop Cancer Portugal. Ana Paula Figueiredo, born in Trofa, holds a Bachelor of Science in Nursing with a specialization in Mental Health and Psychiatry awarded by the Porto School of Nursing. Master in Education, specialty subject of Health Education awarded by the University of Minho. Currently undertakes professional practice in the area of Oncology in Porto. Coordinates the Health Education workgroup of the Portuguese Oncologic Nursing Association. Coauthor of the project “With a tale I’ll add a dot to my health” and the competition “With a story I’ll conquer a victory”, she has also authored several scientific articles on the subject of oncology as well as children’s stories on the subject of health education. Collaborates in the project Stop Cancer Portugal.