Com o progresso científico, desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico e com a descoberta de novos tratamentos, a sobrevivência dos doentes oncológicos tende a aumentar, aumentando também o nº de internamentos, recaídas e consequentemente as necessidades dos familiares.
O impacto da doença na família tem tendência a provocar o estabelecimento de novos padrões de interação familiar. Quando um dos membros adoece o conjunto da célula familiar tende a ajudar o elemento que está em perigo, mas estas reações muitas vezes complexas requerem a atenção de outros indivíduos, nomeadamente da equipa de saúde hospitalar ou da comunidade.
Sabe-se que a doença influência os planos de futuro, provoca alterações de papeis e responsabilidades, assim como de outros padrões de interação familiar, ou seja altera toda a dinâmica familiar.
A doença oncológica é por si só um stressor severo que conduz com frequência a uma crise no sistema familiar. Esta crise pode tornar-se uma ameaça ou um desafio.
Segundo Giacquinta, existem quatro etapas que descrevem as várias fases de adaptação da família à doença.
A primeira consiste em enfrentar a realidade. Nesta fase a família depara-se com o impacto marcado pelo choque e ansiedade promovidos pelo diagnóstico. Depois, se os familiares forem incapazes de manter o seu papel habitual poderá verificar-se uma desorganização familiar onde a autonomia familiar tende a diminuir. Aqui é fundamental vencer o isolamento para onde a família poderá derivar.
A procura de uma explicação na tentativa de compreender o processo da doença através dos antecedentes do doente ou meios de informação cientifica também fazem parte de todo este processo, promovendo uma pressão familiar aumentada e “obrigando-a” a procurar outras opiniões médicas acerca do diagnóstico, prognóstico e terapêutica.
No caso de prognóstico negativo a família começa a reconhecer a hipótese de perda, a adotar novos papeis, a reordenar objetivos de forma a encontrar respostas às alterações da vida familiar.
A segunda etapa consiste na sua reorganização no período que antecede a morte. A família começa a reorganizar memórias, passa horas a recordar a história pessoal do doente e a rever fotografias.
A terceira etapa coincide com a eminência da morte. Verifica-se a fase da separação quando a consciência do doente se altera. Aqui a família experimenta a perda e a solidão da separação. Segue-se o luto onde pode adquirir especial significado a culpabilidade.
Finalmente a quarta etapa relaciona-se com a fase final de adaptação da família, desenvolvendo-se depois de concluído o luto com êxito.
Este modelo proposto por Giacquinta pretende promover a compreensão da adaptação da família à doença e ao sofrimento que a mesma provoca e não assumir-se como uma visão estereotipada da evolução familiar.
[fonte]Referências: Dias, M. & Durá, E. (coord).(2002). Territórios da psicologia oncológica. Climepsi Editores.; Giacquinta, B. (1977). Helping families face the crisis of cancer. American Journal of Nursing. 1585-1588; Pereira, M. & Lopes, C. (2002). O doente oncológico e sua família. Climepsi Editores.;Pereira, M. (coord). (2007). Psicologia da Saúde familiar: aspectos teóricos e investigação. Climepsi Editores. [/fonte]