A vitamina D no tratamento do cancro
A deficiência em vitamina D é comum em doentes oncológicos e relaciona-se com a progressão da doença.
Em estudos observacionais, o défice nesta vitamina está associado a um aumento da incidência de cancro da mama, do cólon e do pulmão. No entanto, esta carência não se reflete apenas no aumento do risco, uma vez que também está relacionada a um pior prognóstico, com maior mortalidade, em casos de linfoma não-Hodgkin e de cancro da mama e colo-retal, sendo mesmo um preditor independente da sobrevivência nos dois últimos.
Num estudo que acompanhou 512 mulheres com cancro da mama durante 12 anos, a deficiência em vitamina D foi associada à ocorrência de formas mais agressivas da doença. Além disso, o risco de metástases e a probabilidade de morte prematura devido à doença em mulheres com défice da vitamina estavam aumentados em 94% e 73%, respetivamente, em comparação com as doentes com níveis normais de vitamina D.
A suplementação com vitaminas e/ou minerais está presente em 30-90% dos doentes oncológicos, com ou sem indicação médica. Vários estudos têm mostrado evidência crescente de uma redução dos efeitos secundários dos tratamentos, uma menor taxa de abandono dos mesmos, um melhor prognóstico e uma maior qualidade de vida, quando alguns micronutrientes são prescritos. A administração de vitamina D no tratamento do cancro, quando adaptada à terapêutica oncológica em curso, tem vindo a ser bastante estudada, revelando ser um aspeto importante.
Vitamina D e os tratamentos oncológicos
Alguns fármacos usados em quimioterapia como os taxanos, as antraciclinas e a ciclofosfamida contribuem para uma deficiência em vitamina D e, eventualmente, para osteopenia ou osteomalácia. A deficiência na vitamina também pode contribuir para o aparecimento de mucosite e alterações do paladar, pelo que os fármacos referidos são ainda conhecidos por poderem desencadear esses sintomas, os quais podem ser ultrapassadas com a suplementação com vitamina D. Adicionalmente, a fadiga e as artralgias durante o tratamento com inibidores da aromatase (ex: letrozole) são menores com a suplementação com vitamina D, como concluiu um estudo realizado em doentes com cancro da mama. Por outro lado, em idosos com linfoma difuso de grandes células B tratados com rituximab, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisolona, a deficiência em vitamina D é um fator de risco, já que se associa a piores prognósticos.
Além da quimioterapia, a vitamina D pode ser um adjuvante no tratamento de radioterapia, dado que parece minimizar os danos nos tecidos saudáveis irradiados.
A vitamina D está, ainda, envolvida na redução da caquexia, a qual pode atingir até 50% dos doentes oncológicos, sendo a causa de morte de até 30%. O nutriente pode afetar muitos dos fatores envolvidos nos mecanismos associados à caquexia, especialmente os associados à inflamação, suprimindo a ação dos mesmos.
Além do referido, a vitamina D regula o eixo hepcidina/ferroportina, o qual melhora a disponibilidade do ferro. Assim, também pode ter importância no tratamento da anemia provocada pelo cancro.
Num artigo de revisão publicado na Nutrients, os autores recomendam que os níveis de vitamina D devem ser avaliados em todos os doentes oncológicos e, em situações de défice, o mesmo deve ser corrigido através de suplementação. Esta situação aplica-se especialmente a doentes desnutridos, em tratamento com inibidores da aromatase, bifosfonatos e quimioterapia que inclua antraciclinas, taxanos e anticorpos monoclonais, bem como em casos de perturbações musculares ou das mucosas, fadiga, anemia e caquexia.