Quando, há uns anos, estava nos engraçados tempos da orientação vocacional, fui chamada ao gabinete da direção. Motivo?! Simples: a hipótese que eu começava a ponderar tinha deixado a Sra. diretora escandalizada! (Note-se que, nessa altura, os diretores das escolas ainda conseguiam saber quem eram os alunos que dirigiam, porque éramos contados às centenas e não aos milhares como agora) Voltando à questão, a Sra. diretora estava seriamente preocupada comigo. E é compreensível: escolhi estudar Teologia! Quê?! Teologia, sim.
Com toda a ternura do mundo, a Sra. diretora considerava que a minha escolha era… uma pena.
Guardo esse momento com grande carinho – era de carinhosa preocupação a opinião que me manifestava.
Ao longo dos anos, fui tendo reações muito distintas, mas há duas coisas que acontecem sempre que alguém descobre que me importa a fé: a primeira atitude é, sem dúvida, a surpresa. Mas o que me deixa a pensar é a segunda: frequentemente, assim que se sentem à-vontade (porque a fé nunca é uma coisa impessoal), as pessoas aproveitam para ir buscar às catacumbas de si, todas as questões de fé que têm guardadas e, às vezes, cobertas de pó. Se encontram abertura na minha reação, então, é seguro que vão descer mais um pouco e trazer também as curiosidades, inquietações, intranquilidades, incompreensões e experiências de fé que gostariam de revisitar, mas que, por mil e uma razões, foram deixadas bem quietinhas, para ver se não perturbavam o sossego de acreditar só no que é “visível aos olhos”.
A fé, muitas vezes, é só um assunto. E o único lugar que ocupa está situado nas catacumbas de nós. O mais bonito é ver que, mesmo que esteja assim, esquecida para lá, basta um pretexto e descemos a escada, sôfregos, com saudades de andar com ela às voltas.