Há um café onde gosto de rever amigos que tem um pormenor que me perturba sempre: a casa de banho! Acreditem! – Usá-la é uma experiência única! Eu explico: a casa de banho em questão não tem tinta, azulejo ou outra decoração comum nas paredes. Tem, ao invés disso, espelhos e mais espelhos. Espelhos em todos os lados. Se fizerem um exercício de imaginação, conseguirão perceber facilmente que se trata de uma experiência reveladora!
Os espelhos, aliás, têm connosco uma relação muito forte, paradoxal até: em dias de belezas, procuramo-los para nos mimarem gentilmente; em dias duros, fugimos deles, para não nos magoarem com verdades desagradáveis.
De vez em quando, como se o tempo parasse, perco-me cara a cara com o espelho. Não, não permaneço ali à espera que me lisonjeie ou a embonecar-me. Perco-me a olhar por dentro os meus próprios olhos, como se procurasse ver-me por dentro.
Não sei bem se sou só eu, mas às vezes, imagino como seria se todos os dias, ao acordar e ao deitar, nos víssemos em raio X, para descobrir como vamos por dentro. É que em matéria de saúde, não chega contar calorias, manter uma boa dieta e fazer exercício físico. E em matéria de beleza, jamais bastarão os cremes hidratantes, as maquilhagens delicadas ou as roupas bonitas.
Suspeito até que a saúde e a beleza nascem noutro lugar, que nem os espelhos nem mesmo os aparelhos de raio X desvelam.
Há dias em que, sem contar, o espelho me aparece de surpresa. Por vezes, até me assusta! Mas, ouço-lhe os sinais.
Já quanto ao que me mora por dentro, inquieto-me: se eu não espreitar com frequência e não cuidar do que sinto, sonho e sou, não correrei o risco de um dia acordar de urgência, com a alma em cuidados paliativos?