Se fossemos capazes de usufruir de uma visão microscópica descobriríamos que vivemos rodeados de ameaças à nossa saúde. Vírus, bactérias, fungos e outros seres pouco amistosos estão por todo o lado. O panorama só não é aterrador porque não os vemos. São demasiado minúsculos.
Há ainda aqueles agentes de natureza mais subtil que não são menos perigosos: por exemplo, o chamado “mau colesterol“, a pressão alta, as muitas toxinas que circulam no corpo, o excesso de açúcar, as substâncias nocivas devidas ao fumo do tabaco e outras fontes de poluição, etc. Não é necessário falar dos acidentes, dos atos de violência e das guerras para concluirmos que o mundo em que vivemos, apesar de toda a sua beleza, não é um lugar fácil para se viver.
Apesar da evolução admirável da medicina e da biotecnologia continuamos expostos a um elevado número de riscos para a saúde.
É certo que o estado normal de um organismo, e para o qual as suas energias tendem naturalmente a empurrá-lo, é a saúde.
Estados mentais e o conceito de saúde
Saúde não quer dizer apenas ausência de doença. Significa muito mais porque também o conceito evoluiu. Ter saúde significa bem-estar e harmonia consigo próprio, equilíbrio emocional, relações interpessoais prazerosas.
Os estados emocionais exercem uma poderosa influência na saúde de tal forma que se pode dizer que todas as doenças têm uma componente psicológica que lhe está associada. Até uma vulgar constipação não deixa de ser influenciada pela personalidade e a psique do seu portador.
Já não se trata apenas de uma crença ou de uma suspeição. Novas técnicas moleculares e farmacológicas identificaram uma complexa ligação do sistema imunológico (encarregado de defender o organismo) ao sistema nervoso (cujo órgão central é o cérebro) e através da qual substâncias químicas produzidas pelas células de ambos os lados influenciam-se mutuamente.
Nos laboratórios do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos foi verificado que qualquer tipo de interrupção nessa rede de comunicações (sejam de natureza hereditária ou provocadas por substâncias tóxicas e até cirurgias) aumenta o risco de se desenvolverem-se doenças infeciosas, inflamatórias, auto-imunes e também de natureza psicológica (como a depres-são).
Num artigo publicado na revista Scientific American Brasil (edição nr. 23) os doutores Esther M. Sternberg e Philip W.Gold, investigadores especializados no sistema imunológico, concluíram que o nosso estado emocional pode, com efeito, influenciar a forma como resistimos ou nos recuperamos de processos inflamatórios ou infeciosos.
Sistema imunitário e sistema nervoso
Ao contrário do que possa parecer, os sistemas imunitários e nervosos são parecidos no modo como recebem, reconhecem e integram sinais para manter o corpo sob sua proteção. Enquanto o sistema nervoso tem o seu centro de comando no cérebro, o sistema imunológico é descentralizado e distribui-se por todo o corpo através de estruturas como o baço, os linfonodos, o timo e a medula óssea. Ambos possuem os seus próprios sensores que captam informações do ambiente e do corpo assim como executores destinados a por em marcha as respostas apropriadas a cada situação considerada anómala.
A um nível mais profundo da investigação verificamos que os dois sistemas servem-se de mediadores químicos para se comunicarem entre si e adoptarem estratégias de defesa integradas. Enquanto o sistema nervoso produz substâncias químicas que podem agir como sinais para o sistema imunológico, as células deste também interagem com o cérebro e as vias nervosas. Trata-se pois de uma comunicação cruzada em que se produz intenso intercâmbio de informações sobre o estado do organismo a cada instante da nossa vida. Esse funcionamento cooperativo é vital para mantermos a saúde sendo desejável que os dois sistemas se mantenham amigos e em harmonia.
Outros sistemas hormonais e nervosos como a tiróide, as hormonas de crescimento e as vias bulbo-simpáticas (que ligam o sistema nervoso simpático e o bulbo) participam na interação informativa e executiva estabelecida entre o cérebro e o sistema imunológico.