Carência de vitamina D: há necessidade de suplementar?

A deficiência de vitamina D tem sido descrita nos últimos anos como uma condição muito prevalente em lactentes, a crianças e adolescentes em todo o mundo. Há muito que a deficiência de vitamina D é associada a raquitismo, explicável pela carência no regime alimentar ou por ausência de exposição cutânea directa à radiação solar.

A elevada prevalência de inadequação de vitamina D foi já reconhecida como um problema de saúde pública que afecta vários países da Europa e os EUA. De acordo com a declaração Portuguesa de vitamina D, em Portugal a prevalência de inadequação não é conhecida.

Actualmente a vitamina D está já reconhecida com outras funções e necessidades que não apenas a relacionada com a saúde óssea.

Encontraram-se receptores para a vitamina D noutras células como linfócitos T e B, queratinócitos, neurónios, células da mama, próstata, cólon, pâncreas, miocárdio e pulmões. Assim, a carência de vitamina D terá uma relação com diferentes patologias como neoplasias, diabetes, doenças imunológicas, asma, doenças inflamatórias intestinais, esquizofrenia e depressão, doenças cardiovasculares, periodontais e a psoríase. No entanto, o Institute of Medicine considera tais evidências ainda inconclusivas e que a verdadeira relação causa-efeito ainda precisa ser comprovada, especialmente na faixa etária pediátrica.

A vitamina D é uma hormona esteróide, lipossolúvel. Há duas formas disponíveis com diferenças estruturais: a vitamina D2 (ergocalciferol) e a vitamina D3 (colecalciferol). A vitamina D2 é derivada de plantas e fungos enquanto a vitamina D3 é sintetizada por animais (peixes, aves e vertebrados) e na pele humana a partir do 7 dehidrocolesterol (7-DHC), por ação dos raios ultravioleta (UVB), a um comprimento de onda de 300+5nm, pela exposição ao sol.

Em 2011, o Institute of Medicine aumentou a recomendação de vitamina D, estabelecendo um valor de referência (adequate intake) de 400 UI/dia até um ano de idade e de 600 UI/dia (RDA) para crianças de 1 a 18 anos de idade. A concentração de vitamina D no leite materno é de aproximadamente 22 UI/litro e nas fórmulas infantis de cerca de 400 UI/litro.

Em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde recomenda a administração de vitamina D a todos os lactentes desde a primeira consulta até aos 12 meses. Não há uma dose aconselhada por este mesmo organismo. Esta recomendação não distingue prematuros de recém-nascidos de termo nem lactentes amamentados daqueles alimentados com fórmulas lácteas.

Uma vez que não existe um documento consensual em relação às recomendações, do que podemos apurar na literatura dedicada ao tema conclui-se o seguinte em relação à suplementação:

  • para recém-nascidos a termo, recomenda-se suplementação medicamentosa profilática de 400 UI de vitamina D/dia, a partir da primeira semana de vida até os 12 meses e de 600 UI/dia dos 12 aos 24 meses, inclusive para lactentes em aleitamento materno exclusivo, independentemente da região do país;
  • para recém-nascidos pré-termo, recomenda-se suplementação profilática oral de vitamina D (400 UI/dia), que deve ser iniciada quando o peso for superior a 1500 g e houver tolerância plena à nutrição entérica;
  • por ausência de consenso na literatura em relação à exposição solar segura e necessária para se atingir concentrações séricas adequadas de vitamina D em lactentes, a suplementação profilática é sempre recomendada;
  • crianças e adolescentes devem ser incentivados para a adopção de hábitos alimentares saudáveis e estilo de vida adequado, incluindo o consumo de alimentos fonte de vitamina D (ex. peixes marinhos) e a prática de actividades ao ar livre associada à exposição solar segura;
Referências: Monteiro T. Carência de vitamina D. Acta Pediátrica Port, 2009: 40 (2); Sociedade Brasileira de Pediatria. Deficiência de vitamina D em crianças e adolescentes, documentos ciêntificos. 2014; Kleinman RE, Greer FR. American Academy of Pediatrics. Fat-Soluble Vitamins. Pediatric Nutrition. 2014:495-516; Institute of Medicine, Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes for Calcium and Vitamin D. Washington, DC: National Academy Press; 2011.

Marisa Figueiredo, nutricionista licenciada em Ciências da Nutrição e mestre em Nutrição Clínica, pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, iniciou atividade clínica em 2004. É doutoranda na Faculdade de Medicina de Lisboa no curso de Doenças Metabólicas e de Comportamento Alimentar. Desenvolve atividade docente desde 2007 e colabora frequentemente em ações de divulgação na promoção da saúde e prevenção das doenças crónicas. Dedica o seu trabalho à nutrição clínica, no adulto e na criança, com particular interesse pela alimentação e saúde infantil. Acredita que o seu trabalho deve assentar essencialmente na mudança de atitudes face a comportamentos que possam pôr em risco a saúde. A estratégia adoptada passa por fazer chegar a mensagem aos pais e seus educandos. A prevenção começa in útero. Colaboradora do Stop Cancer Portugal desde Janeiro de 2013. Por indicação do autor, os seus textos não obedecem ao novo acordo ortográfico.     Marisa Figueiredo is a nutritionist, graduated in Nutritional Sciences and has a Master degree in Clinical Nutrition of the Institute of Health Sciences Egas Moniz. Started her clinical activity in 2004. She is a PhD student in Metabolic Diseases and Feeding Behavior at the School of Medicine of Lisbon. Develops teaching activity since 2007 and collaborates frequently in actions and workshops for promoting health and preventing chronic diseases. His work is dedicated to clinical nutrition in adults and children, with particular interest in child´s health and nutrition. She believes that her work should be based on attitudes and behaviours’ changing and prevention begins in utero. Collaborates in Stop Cancer Portugal since January 2013.