Alterações do sabor no doente oncológico

Alterações do sabor no doente oncológicoSão frequentes as alterações no sabor e no olfato, nos doentes oncológicos,  devidas à doença ou às intervenções terapêuticas. Além dos efeitos dos tratamentos nas papilas gustativas, qualquer interferência com o olfato, como obstruções ao fluxo de ar por tumores na cavidade nasal ou pela intervenção cirúrgica, pode ter um impacto negativo no paladar. Isto porque, 80% do sabor de uma refeição está relacionada com o seu cheiro.

Embora uma distorção leve dos sabores seja bem tolerada, a incapacidade ou a diminuição acentuada na perceção do paladar/olfato podem exercer um grande impacto na qualidade de vida do doente, por afetarem o apetite, reduzirem a ingestão, aumentarem a aversão alimentar, levarem à perda de peso e prejudicarem o estado nutricional.

Estima-se que 50-75% dos doentes oncológicos em quimio e/ou radioterapia irão sofrer distorções do sabor ou uma incapacidade de perceção do mesmo, podendo a recuperação levar 6 meses a 1 ano ou mais. A severidade das alterações do paladar em doentes em radioterapia está relacionada com a dose de radiação acumulada principalmente na região da cavidade oral, ocorrendo, então, mais frequentemente em doentes com tumores da cabeça e pescoço. Por outro lado, aproximadamente dois terços dos doentes em quimioterapia referem alterações do paladar; diminuição ou perda do mesmo ou a presença de um sabor metálico na boca. Embora haja um maior foco na quimio e na radioterapia como intervenções com interferência no sabor, a cirurgia também o pode influenciar, através de vários mecanismos, como resseções de porções das cavidades oral e/ou nasal, as quais limitam a sensibilidade ao paladar e ao olfato.

Zinco para minimizar alterações do sabor

Uma das estratégias para minimizar a diminuição do sabor dos alimentos é a suplementação com zinco, já que a deficiência deste elemento prejudica a sensibilidade aos sabores e odores.

O zinco está envolvido na síntese de uma proteína presente na saliva, a gustina. Entre outras funções, a gustina, mantém a integridade das papilas gustativas. Contudo, a suplementação com zinco deve ser cuidada, pois o excesso de consumo deste elemento pode ter um efeito negativo no sistema imunitário do doente.

Outra opção que pode ser considerada é a suplementação com vitamina D, já que, em estudos realizados, doentes com alterações do sabor viram a condição melhorada com esta suplementação.

Contudo, o aconselhamento alimentar pode ter mais impacto, durante um período mais longo, melhorando os resultados. Neste sentido, deve ser considerado o benefício da consulta de nutrição e do respetivo acompanhamento do doente. De um modo geral, podem ser dados alguns conselhos em casos de alterações do sabor/odor:

  • Optar por talheres de plástico (reduz o sabor metálico)
  • Optar por alimentos preferidos e experimentar novos apenas quando se sentir melhor
  • Evitar os alimentos com sabor amargo ou metálico (carne vermelha, café e chá) e optar por alimentos ricos em proteína e com sabor leve (aves, peixe, laticínios e ovos)
  • Usar rebuçados ou pastilhas de limão ou de menta sem açúcar, quando sentir um gosto metálico ou amargo na boca
  • Adicionar especiarias, ervas aromáticas e molhos aos alimentos (comer carne com algo doce, como geleias ou compotas)
  • Ingerir líquidos às refeições (permite a dissolução dos componentes do sabor dos alimentos e facilita o seu transporte para as papilas gustativas)
  • Mastigar devagar e bem (permite a libertação de mais sabores e estimula a produção de saliva)
  • Trocar os alimentos durante as refeições (evita a adaptação dos recetores do sabor)
  • Optar por alimentos mais frios (reduz os sabores e odores desagradáveis)
  • Praticar uma boa higiene oral
Referencias: Halyard MY. Taste and Smell Alterations in Cancer Patients—Real Problems With Few Solutions. J Support Oncol. 2009; 7: 68–69. Hong JH, Omur-Ozbek P, Stanek BT, Dietrich AM, Duncan SE, Lee YW, Lesser G. Taste and Odor Abnormalities in Cancer Patients. J Support Oncol. 2009; 7: 58–65. http://www.cancer.gov/ Wong HM. Oral Complications and Management Strategies for Patients Undergoing Cancer Therapy. The Scientific World Journal. 2014; 2014 Article ID 581795. http://dx.doi.org/10.1155/2014/581795 Zabernigg A, Gamper EM, Giesinger JM, Rumpold G, Kemmler G, Gattringer K, Sperner-Unterweger B, Holzner B. Taste Alterations in Cancer Patients Receiving Chemotherapy: A Neglected Side Effect?. The Oncologist. 2010; 15: 913–920. Fonte de imagem: http://www.hellawella.com/whats-our-fifth-taste-and-how-could-it-make-us-feel-full-faster

Dina Raquel João é Nutricionista e Mestre em Nutrição Clínica, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas (nº 0204N), com o Título de Especialista para a área de Terapia a Reabilitação da Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação, subárea da Nutrição, tendo desenvolvido a sua atividade profissional principalmente na prática clínica, na docência e formação e na investigação. Como Nutricionista, iniciou atividade clínica em 2001, tendo exercido a nível hospitalar, em centro de saúde e em clínica privada. A experiência profissional na área da investigação decorreu, essencialmente, na área oncológica, tendo sido premiada nesse campo (1º Prémio de Nutrição Clínica da Fresenius Kabi, em 2002). Conta com diversas comunicações científicas orais e em painel, tanto em eventos nacionais como internacionais. Atualmente, é Professora Adjunta Convidada na Universidade do Algarve – Escola Superior de Saúde, lecionando à licenciatura em Dietética e Nutrição.