O uso de antibióticos em bebés pode conduzir à obesidade

Martin Blaser, microbiologista e investigador no departamento de microbiologia da Universidade de Medicina de Nova Iorque, dedicou muito da sua investigação à colonização e ao ecossistema bacteriano humano.

Do seu mais recente trabalho, surgiu o livro, Missing Microbes: How the Overuse of Antibiotics Is Fueling Our Modern PlaguesBactérias perdidas : como o uso excessivo de antibióticos alimenta as nossas pragas modernas.

O autor e a sua equipa, justificam neste trabalho o facto de, o uso prolongado de antibióticos em bebés e na primeira infância, poderem conduzir a um risco mais elevado para obesidade ao longo da vida.

Como resultado deste estudo, crianças que tomaram antibióticos antes dos seis meses de idade, foram mais propensos a desenvolver excesso de peso aos sete anos. Os autores explicam que, pequenas doses de penicilina podem alterar a flora bacteriana normal do intestino, o que por sua vez altera o metabolismo de uma forma permanente conduzindo à obesidade.

O ser humano é hospedeiro de várias populações de micróbios que vivem sobre a pele e intestino, transportando cerca de 100 triliões de bactérias. São na grande maioria não patogénicos, o que os torna fundamentais para o nosso bem-estar.

Estudos em ratos sugerem que os antibióticos não são diretamente responsáveis pelo ganho de peso em idade adulta, no entanto, são responsáveis pela eliminação de bactérias intestinais “boas” permitindo que as mais resistentes “más” prosperassem. Estas mudanças na composição da microbiota tiveram um impacto a longo prazo no metabolismo, que persistiu mesmo quando a população de bactérias intestinais voltou ao normal algumas semanas depois.

Quatro semanas de antibióticos foram suficientes para perturbar a microbiota e, mesmo quando esta voltou ao normal, os ratos continuaram obesos. Ratos que foram sujeitos ao uso de antibióticos no primeiro mês de vida eram 25% mais pesados e tinham 60% mais gordura do que os controles.

A perturbação da microbiota parece também exacerbar o efeito de uma dieta rica em gordura, já que os animais que tomaram antibióticos ganharam mais peso do que os que não tomaram. Por razões desconhecidas, os machos ganharam mais peso do que as fêmeas.

Naveed Sattar, professor de medicina metabólica na Universidade de Glasgow considera que, apesar dos resultados serem interessantes, os profissionais não deverão alterar a prática médica, e que o uso de antibióticos em crianças ou recém-nascidos deve ser dada em função das necessidades clínicas, e que as alterações no estilo de vida continua a ser o meio mais importante para combater a obesidade.

Referências: Cho I, Yamanishi S, Blaser MJ et al.. Antibiotics in early life alter the murine colonic microbiome and adiposity. Nature. 2012 August; 488(7413): 621–626. Giving antibiotics to babies may lead to obesity, researchers claim. [Online] The Guardian. Aug 2014. Disponivel em: http://www.theguardian.com/science/2014/aug/14/antibiotics-babies-toddlers-obesity-fat.

Marisa Figueiredo, nutricionista licenciada em Ciências da Nutrição e mestre em Nutrição Clínica, pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, iniciou atividade clínica em 2004. É doutoranda na Faculdade de Medicina de Lisboa no curso de Doenças Metabólicas e de Comportamento Alimentar. Desenvolve atividade docente desde 2007 e colabora frequentemente em ações de divulgação na promoção da saúde e prevenção das doenças crónicas. Dedica o seu trabalho à nutrição clínica, no adulto e na criança, com particular interesse pela alimentação e saúde infantil. Acredita que o seu trabalho deve assentar essencialmente na mudança de atitudes face a comportamentos que possam pôr em risco a saúde. A estratégia adoptada passa por fazer chegar a mensagem aos pais e seus educandos. A prevenção começa in útero. Colaboradora do Stop Cancer Portugal desde Janeiro de 2013. Por indicação do autor, os seus textos não obedecem ao novo acordo ortográfico.     Marisa Figueiredo is a nutritionist, graduated in Nutritional Sciences and has a Master degree in Clinical Nutrition of the Institute of Health Sciences Egas Moniz. Started her clinical activity in 2004. She is a PhD student in Metabolic Diseases and Feeding Behavior at the School of Medicine of Lisbon. Develops teaching activity since 2007 and collaborates frequently in actions and workshops for promoting health and preventing chronic diseases. His work is dedicated to clinical nutrition in adults and children, with particular interest in child´s health and nutrition. She believes that her work should be based on attitudes and behaviours’ changing and prevention begins in utero. Collaborates in Stop Cancer Portugal since January 2013.