Extratos de cereja e de ginja na doença oncológica

A época da cereja é muito aguardada, já que é um fruto muito apreciado entre nós. Dentre os seus parentes próximos, existe a ginja, também conhecida como cereja amarga, cereja ácida ou cereja selvagem, dado o seu sabor mais amargo, embora, com mais benefícios nutricionais.

Tanto as cerejas como a ginja contêm níveis elevados de antocianinas (flavonóides que lhes dão a cor intensa), as quais lhe conferem propriedades antioxidantes, antinflamatórias e quimiopreventivas, tendo mostrado diminuir o risco de cancro do cólon e a progressão dos tumores,uma vez que parecem inibir o desenvolvimento das células cancerígenas.

Através de estudos realizados, as cerejas parecem evitar a formação e o desenvolvimento de cancro do intestino em ratos que são usados como modelos para o cancro em humanos. O número e o tamanho dos tumores parecem ser menores nos animais aos quais foi dada uma dieta com cerejas, comparativamente aos ratos sem esta dieta.

De um modo geral, a ginja apresenta níveis mais elevados de antocianinas que as cerejas, sendo, também, fontes importantes de melatonina, a qual parece proteger do cancro da mama, além de ser um potente antioxidante e contribuir para a qualidade do sono. As antocianinas existentes na ginja também têm mostrado efeitos positivos nas células dos vasos sanguíneos, contribuindo, desta forma, para a saúde cardiovascular.

O NAG-1 é um gene que tem mostrado uma atividade antitumor, já que contribui para a destruição das células cancerígenas. Assim, é considerado um alvo a ter em conta no tratamento do cancro. Em laboratório, os extratos de ginja parecem aumentar a expressão deste gene, contrariando a multiplicação das células malignas e favorecendo a destruição das existentes. Além disso, através da ação sobre certas proteínas existentes no interior da célula, estes extratos potenciam os efeitos descritos.

Para além do referido, os extratos das cerejas e da ginja, obtidos através do etanol, parecem ter ação antimicrobiana, mesmo em bactérias resistentes a certos antibióticos, como demonstrou um estudo publicado este mês. Esta ação foi maior nos extratos de ginja, pois a mesma tende a deixar de existir com o desaparecimento da qualidade ácida verificada nas cerejas. Contudo, noutro estudo, os extratos de cerejas e de framboesas, obtidos com água, e de groselha, obtidos com metanol, mostraram ter também um grande efeito antimicrobiano, independentemente do baixo nível de acidez, efeito esse dado pelas antocianinas e pelos elagitaninos existentes nesses frutos.

Assim, aproveite para apreciar todo o sabor e propriedades de um dos frutos mais aguardados da época em que nos encontramos.

Referências: Ogur R, Istanbulluoglu H, Korkmaz A, Barla A, Tekbas OF, Oztas E. Investigation of anti-cancer effects of cherry in vitro. Pak. J. Pharm. Sci. 2014; 27(3): 587-592. Jafari AA, Hossein S, Karimi F and Pajouhi M. Effects of sour cherry juice on blood glucose and some cardiovascular risk factors improvements in diabetic women. Nutr. Food Sci. 2008; 38(4): 355-360. Kang SY, Seeram NP, Nair MG and Bourquin LD (2003). Tart cherry anthocyanins inhibit tumor development in ApcMin mice and reduce proliferation of human colon cancer cells. Cancer Lett. 2003; 194: 13-19. Imagem: http://comofazerasunhas.com.br/unhas-decoradas-com-cerejas-passo-a-passo/

Dina Raquel João é Nutricionista e Mestre em Nutrição Clínica, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas (nº 0204N), com o Título de Especialista para a área de Terapia a Reabilitação da Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação, subárea da Nutrição, tendo desenvolvido a sua atividade profissional principalmente na prática clínica, na docência e formação e na investigação. Como Nutricionista, iniciou atividade clínica em 2001, tendo exercido a nível hospitalar, em centro de saúde e em clínica privada. A experiência profissional na área da investigação decorreu, essencialmente, na área oncológica, tendo sido premiada nesse campo (1º Prémio de Nutrição Clínica da Fresenius Kabi, em 2002). Conta com diversas comunicações científicas orais e em painel, tanto em eventos nacionais como internacionais. Atualmente, é Professora Adjunta Convidada na Universidade do Algarve – Escola Superior de Saúde, lecionando à licenciatura em Dietética e Nutrição.