Em doentes oncológicos, a adoção de um estilo de vida saudável deve ser uma prioridade, pois, como já referimos anteriormente, variações na composição corporal poderão influenciar o estado funcional, emocional e social do doente, com implicações na qualidade de vida. Assim, iremos abordar as recomendações específicas para a prática de atividade física em doentes oncológicos, pois o que é importante é iniciar ou manter hábitos ativos em qualquer fase da doença.
Os aspetos relativos a quando e como iniciar uma atividade física programada devem ser individualizados. Há que ter em conta a condição física em que o doente se encontra e as suas preferências.
As recomendações da American College of Sports Medicine e da American Cancer Society indicam que os doentes oncológicos adultos devem fazer, no mínimo, 150 minutos por semana de exercício físico de intensidade moderada, 75 minutos de exercícios aeróbicos mais intensos ou uma combinação entre as duas opções. Já a duração de cada sessão deve ser de, pelo menos, 10 minutos e, de preferência, várias vezes por semana. Além disso, deverão ser efetuados exercícios para fortalecimento muscular, pelo menos, 2 dias por semana.
Os doentes em quimio e/ou radioterapia que já praticam atividade física programada poderão ter a necessidade de diminuir a intensidade ou a duração dos exercícios mas o objetivo principal deverá ser sempre manter a atividade física tanto quanto possível.
Para aqueles que já eram sedentários antes do diagnóstico da doença, exercícios de baixa intensidade (por exemplo: alongamentos, caminhadas lentas) deverão ser adotados, devendo a intensidade ser aumentada lentamente.
No caso de doentes idosos ou com metástases ósseas ou com osteoporose ou outras condições como artrite e neuropatia periférica, deverá ser tida particular atenção, de forma a diminuir-se o risco de quedas e lesões.
Caso a doença ou o tratamento exija períodos de repouso na cama, acabará por se verificar uma diminuição da força, devido à perda de massa muscular. Assim, deverá ser mantida uma atividade física possível, durante esta fase, para minimizar essas perdas mas também para contrariar a instalação de fadiga e estados emocionais mais depressivos.
Cuidados a ter na prática de atividade física
Contudo, apesar dos vários benefícios da atividade física nos sobreviventes de cancro, são muitos os fatores que podem afetar a capacidade de praticá-la. Além disso, alguns efeitos do tratamento podem aumentar o risco de lesões relacionadas com o exercício, devendo ser tomados alguns cuidados:
- Doentes com anemia severa devem atrasar a prática de uma atividade física programada
- Quando o sistema imunitário está debilitado, as piscinas e os ginásios públicos devem ser evitados
- Os doentes que se encontrem extremamente cansados devido aos tratamentos poderão não se sentir capazes de iniciar um programa de exercícios. Estes doentes devem, todavia, ser encorajados a fazer diariamente 10 minutos de exercícios leves
- Os doentes sujeitos a radioterapia devem evitar a exposição da zona irradiada ao cloro, bem como ao sol, quando as atividades ao ar livre
- Aqueles doentes que apresentarem cateteres ou sondas para alimentação deverão evitar as piscinas, os lagos, a água do mar ou outras formas de exposição microbiana que possa causar infeções. Além disso, estes doentes devem evitar os treinos que trabalhem os músculos da região do cateter, de forma a evitar a deslocação do mesmo
- Os doentes que apresentem outra(s) doença(s), além da oncológica, devem consultar o seu médico, uma vez que pode existir a necessidade de alteração do programa de exercício
- Para os doentes com dificuldades em movimentar os membros, devido a fraqueza ou falta de equilíbrio, é preferível optar por exercícios cujo risco de queda seja menor.
[fonte]Referências: Rock CL, Doyle C, Demark-Wahnefried W, Meyerhardt J, Courneya KS, Schwartz AL, Bandera EV, Hamilton KK, Grant B, McCullough M, Byers T, Gansler T. Nutrition and Physical Activity Guidelines for Cancer Survivors. CA Cancer J Clin. 2012; 62: 242-274. [/fonte]