O último texto foi dedicado à amamentação e, numa espécie de “ideia em série”, surge agora o tema: que diferenças entre leite materno, fórmulas infantis e leite de vaca?
Foram já discutidos todos os benefícios da amamentação. Em caso de impossibilidade por razões mais frequentes como ingurgitamento, trauma mamilar ou mastites, opta-se por retirar o leite materno manualmente ou através de bomba e oferece-se ao bebé. Também nestes casos “mãe e filho” têm de encontrar um ritmo de comer/dormir harmonioso. A introdução do biberão pode ocorrer de forma natural, quer porque o bebé tem dificuldade em “pegar” corretamente na mama, quer porque a mãe deixa de ter produção de leite adequada às necessidades da criança.
Mas sempre que a mãe opte por não amamentar ou esteja impossibilitada de o fazer, e introduz de forma parcial a alimentação através de biberão, a quantidade de leite materno produzido irá ser substancialmente menor acelerando o processo de desmame.
Por ser rico em gordura saturada, de difícil digestão e pobre em ácidos gordos insaturados, para além de ser mais alergénio, o leite de vaca não é recomendado até pelo menos 1 ano de idade. Ainda que forneça o mesmo valor energético comparativamente ao leite materno, as fontes de nutrientes de calorias são desajustadas, ao nível das proteínas do soro, da caseína, da lactoalbumina, do ácido linoleico e das vitaminas hidrossolúveis. Também a quantidade diferente de minerais presentes no leite de vaca, dificulta a digestão e absorção.
As fórmulas comerciais são elaboradas a partir do leite de vaca ou produtos à base de soja. São feitas de forma a aproximarem-se da composição do leite humano e a sua fabricação é regulada pela Food and Drug Administration (FDA) através do Infant Formula Act.
Fórmulas elaboradas a partir do leite de vaca são sujeitas a vários processos industriais, como o tratamento térmico que torna a proteína mais digerível, a adição de lactose, a substituição das gorduras naturais do leite por gorduras vegetais de fácil digestão, a adição de ferro recomendada pela American Academy of Pediatrics, a adição de ácidos gordos polinsaturados, entre outros.
Uma vez que parte da proteção em relação às infecções, ao desenvolvimento de alergia e de obesidade futura foi atribuída às particularidades da flora intestinal dos bebés alimentados com leite materno, com predomínio de Lactobacillus e Bifidobacterias, nos últimos anos a indústria alimentar desenvolveu oligossacáridos sintéticos (fruto-oligossacáridos – FOS e os galactooligossacáridos – GOS) aparentemente semelhantes aos presentes no leite materno, adicionados nalgumas fórmulas infantis.
Também a suplementação das fórmulas com próbioticos tem sido crescente, apesar das fragilidades na evidência científica apurada da sua eficácia.
O teor e composição proteica, o baixo teor de fósforo, a presença de oligossacáridos anteriormente referidos, bem como a presença de mediadores celulares e humorais, conferem um efeito bifidogénico único ao leite materno, dificilmente reprodutível pela indústria alimentar.
[fonte]Referências: Shelov S.P., Altmann T.R. Caring for Your Baby and Young Child – Birth to Age 5. American Academy of Pediatrics, 2009. Krause’s Food, Nutrition and Diet Therapy. Mahan LK, Escott-Stump S., 12th ed, Academic Press, London, 2008. Comissão de nutrição da SPP – Acta Pediátrica Portuguesa. Alimentação e nutrição do lactente. Revista de medicina da criança e do adolescente, Vol. 43, n.º 5 Setembro / Outubro 2012, Suplemento II. [/fonte]