Nelson S. Lima, neuropsicólogo e professor de Neurociência, escreve sobre o estilo de vida e o papel determinante da educação.
1. Nos últimos anos tem havido um crescente interesse pelo estudo dos diversos fatores que intervêm na saúde do nosso organismo. Todos os dias surgem notícias de pesquisas sobre essa matéria e aos poucos vai-se criando um verdadeiro “puzzle” onde se destacam os numerosos adversários da saúde: problemas genéticos, má alimentação, produtos tóxicos, sedentarismo, tabagismo, stress, acidentes, etc. A lista é longa.
Muitas pessoas chegam ao ponto de comentar que são tantos os fatores em jogo que a prevenção, por abstenção, deixa de fazer sentido ao retirar diversos “prazeres da vida”. As conversas geralmente terminam de forma suicida: “prefiro arriscar, gozar os prazeres da vida e morrer feliz”.
A maioria das doenças atuais devem-se ao acumular de diversos riscos, geralmente hábitos que se vão enraizando e que as pessoas absorvem com a maior das naturalidades, parecendo ignorar o que está em jogo. Nem sempre é um elemento isolado que conduz à doença, nomeadamente no caso do cancro – uma patologia traiçoeira pois tende a começar de forma lenta, não manifestada e insuspeita.
2. Considera-se, atualmente, que a maioria das doenças, nomeadamente as oncológicas, são muito influenciadas, na sua génese, por um único fator: o estilo de vida!
O estilo de vida resulta das preferências adotadas e dos hábitos adquiridos, no seu conjunto. Curiosamente, cada estilo de vida envolve aspetos que se repercutem numa série de acontecimentos. Por exemplo, um estilo de vida sedentário traduz-se por uma forma passiva de viver, com pouquíssima atividade física, mesmo que modesta, hábitos alimentares crivados de erros e dependências diversas (televisão, computador, etc.). Ou seja, quando se analisa um estilo de vida vamos encontrar um conjunto de fatores que colocam a sua assinatura na qualidade de vida e na saúde das pessoas. Por outro lado, também estão presentes certas convicções que servem como justificação para o manter (“as últimas análises que fiz deram tudo bem, logo tenho uma saúde de ferro!”).
Ora, sabe-se há muito tempo que um estilo de vida saudável pode reduzir para metade o risco de contrair-se um cancro. E pode diminuir também, e até eliminar, o de muitas outras doenças, algumas das quais podem ser letais.
3. Defendo que as crianças nas escolas devem não apenas aprender a alimentar-se saudavelmente mas a saberem também como se forma e gere um estilo de vida saudável (que, obviamente, é mais do que fazer escolhas nutricionais acertadas ou adquirir noções básicas de educação sexual).
Se a saúde começa em casa, a doença também. Os modelos de vida familiares são enormemente culturais e transmitidos de geração em geração, pelo que costumo dizer “fala-me da família que tens e dir-te-ei que doenças terás”.
Aumentar a sensibilização para a importância dos estilos de vida é um papel que cabe aos Estados através das instituições de saúde e do ensino. Infelizmente, as campanhas em prol de uma melhor saúde integral são focalizadas em fatores de risco isolados (tabaco, álcool, drogas, etc.) em vez de orientadas para a forma como as pessoas vivem e gerem a sua saúde (o que envolve tudo o que pode ser considerado fator de risco e aquilo que são comportamentos preventivos).
Uma visão integrada e holística do problema trará mais resultados do que simples campanhas focalizadas em riscos isolados que, como se tem visto, não conduzem a resultados surpreendentes (embora não seja justo dizer-se que sejam improdutivas).
Repensar o estilo de vida (os hábitos alimentares, a higiene, os comportamentos, as escolhas, os vícios, etc.) é pois um passo decisivo para se chegar a uma qualidade de vida superior. E isso é algo que requer apenas um mínimo de inteligência: é um exercício que está ao alcance de qualquer pessoa, sem custos mas com muitos ganhos!