Costumava ser assim: em cada casa portuguesa, por esta altura, a avó, a mãe e/ou as tias, reuniam-se para preparar a tradicional marmelada. Enchiam pequenas tigelas de louça, colocavam-nas em lugares solarengos e mais tarde, depois de cobertas com papel vegetal, distribuíam-nas pelos elementos da família e alguns amigos. Ao longo do Inverno, pequenas fatias adoçavam os lanches de uma forma tão natural!
Lembra-se? Havia sempre uma marmelada que se distinguia de todas as outras. Era única!
Hoje compra-se a marmelada em embalagens de plástico. É mais prático e fácil de consumir, mas não quer dizer que seja boa ideia. O prático e fácil deu lugar a uma “marmelada assim-assim” porque “nunca experimentei a verdadeira” ou porque “lá em casa já não se faz mais assim”.
Não passaram assim tantos anos e ainda pode ir a tempo de salvar heranças de família, como a tradição de fazer marmelada, até mesmo geleia, com marmelos acabados de apanhar, guardando assim e perpetuando verdadeiros segredos gastronómicos.
O marmelo é parente da maçã e da pêra mas, ao contrário destes, não se conserva durante tanto tempo. Assim a técnica de o transformar em compota, usando o fruto por inteiro, permite usufruir, em pleno, do seu valor nutricional e durante mais tempo.
O potencial nutritivo do marmelo é elevado. Alguns estudos efectuados com as diferentes partes do fruto (pele, polpa e sementes) mostraram um conteúdo elevado de vitamina C, de pectinas (fibras solúveis) e de substâncias fitoquímicas, responsáveis por diversas actividades biológicas, benéficas na prevenção das doenças crónicas mais comuns.
No marmelo, o grupo de fitoquímicos identificado é variado. Sobressaem os compostos fenólicos, como: flavonóides, quercetina, rutina e kaempferol, responsáveis por exibir actividade antioxidante, muito úteis como agentes terapêuticos na prevenção de doenças em que estão implicados os radicais livres. Há um estudo português, recente, que sugere algum potencial anticancerígeno do marmelo em células renais cancerígenas.
Que tal convidar os amigos e organizar uma tarde para confeccionar e partilhar os vários métodos de preparar os marmelos. Convide também a avó ou as tias. Assim, torna-se possível preservar alguns hábitos saudáveis que encerram histórias e tradições de família.
[fonte] Referências: Branca M. Silva,Paula B. Andrade,Patrícia Valentão,Federico Ferreres,Rosa M. Seabra, and Margarida A. Ferreira. Quince (Cydonia oblonga Miller) Fruit (Pulp, Peel, and Seed) and Jam: Antioxidant Activity. Journal of Agricultural and Food Chemistry 2004 52 (15), 4705-4712; Márcia Carvalho, Branca M. Silva, Renata Silva, Patricia Valentão, Paula B. Andrade, and Maria L. Bastos. First Report on Cydonia oblonga Miller Anticancer Potential: Differential Antiproliferative Effect against Human Kidney and Colon Cancer Cells. Journal of Agricultural and Food Chemistry 2010 58 (6), 3366-3370; Magalhaes A.S., Silva B.M., Pereira J.A., Andrade P.B., Valentao P., Carvalho M. Protective effect of quince (Cydonia oblonga Miller) fruit against oxidative hemolysis of human erythrocytes. Food and Chemical Toxicology 2010 47 (6), pp. 1372-1377; créditos da imagem:fytorio.zogopoulos.eu[/fonte]