Alimentos e bebidas a evitar durante o tratamento oncológico
Alguns alimentos e bebidas interagem com a medicação usada durante o tratamento oncológico, devendo ser evitados. Ter em conta estas interações e respeitar as indicações da equipa multidisciplinar que acompanha o doente é fundamental no combate ao cancro.
Durante o tratamento oncológico: enzimas do citocromo P450
O grupo de enzimas do citocromo P450 (CYP) são uma importante parte do processo no qual os medicamentos são decompostos (ou metabolizados), após entrarem na corrente sanguínea. Algumas enzimas CYP atuam sobre os medicamentos contra o cancro (CYP2A, CYP3A, CYP4A e CYP5A), influenciando o modo como os mesmos atuam e os efeitos secundários possíveis.
Se uma grande parte do medicamento for decomposta, o mesmo pode não funcionar tão bem, havendo necessidade de aumentar a dose, o que aumenta a hipótese de ocorrência de efeitos secundários. Por outro lado, se apenas uma pequena parte for degradada, a restante permanece no organismo. Isto faz com que possam surgir consequências relacionadas com a toxicidade do medicamento, o que pode levar à necessidade de redução da dose da medicação.
Sabe-se que existem alimentos e bebidas/suplementos que podem influenciar o nível de enzimas CYP.
Durante o tratamento oncológico: alimentos e produtos alimentares a ter em conta
Alguns alimentos influenciam as enzimas CYP, como a toranja e o sumo desta, a laranja amarga, a carambola e o repolho.
A toranja contém naringina, naringenina e furanocoumarinas, os quais têm a capacidade de inibir a CYP3A4. Quando esta é bloqueada, os medicamentos usados no tratamento do cancro (por exemplo, vincristina, docetaxel e ciclosporina) não podem ser metabolizados, não “funcionando” como deveriam ou permanecendo na corrente sanguínea durante mais tempo, originando maior toxicidade.
A laranja amarga e a carambola também inibem a mesma enzima, interagindo com os mesmos fármacos e contribuindo para o aparecimento/agravamento dos efeitos secundários.
Por outro lado, o repolho interage com o irinotecano, reduzindo a eficácia terapêutica, através da indução do metabolismo do medicamento.
Durante o tratamento oncológico: derivados de plantas a ter em conta
Alguns derivados de plantas influenciam as enzimas CYP, como o hipericão, a cimicífuga (cohosh preto), o ginseng, o ginkgo biloba e o cardo de leite.
No caso do hipericão ou erva de S. João, tem a capacidade de indução da CYP3A4 e do CYP2C8, aumentando a degradação de medicamentos usados no tratamento do cancro (irinotecano, ciclosporina, docetaxel e imatinib), cuja ação terapêutica fica reduzida. O mesmo acontece com a cimicífuga ou cohosh preto, em relação ao fármaco cisplatina, usado em quimioterapia.
Quanto à ingestão concomitante de ginseng e imatinib, é totalmente desaconselhada, uma vez que se verifica um efeito tóxico para o fígado.
O Ginkgo biloba e o cardo de leite, por outro lado, parecem aumentar os efeitos tóxicos do tamoxifeno.
Assim e tendo em vista o sucesso do tratamento oncológico, é importante discutir com a equipa multidisciplinar que acompanha o doente todas as interações possíveis entre os medicamentos usados em quimioterapia e alimentos, suplementos e bebidas.