Imunoterapia: influência dos probióticos e da alimentação na eficácia

A imunoterapia ou imuno-oncologia é uma forma de tratamento para o cancro, quer como alternativa à quimioterapia e à radioterapia, quer como potencial tratamento de primeira linha para vários tumores. Através da imunoterapia, as células do organismo, que o defendem naturalmente contra as infeções, são estimuladas a defendê-lo também contra o cancro, reconhecendo e destruindo as células cancerígenas. imunoterapia,

Imunoterapia: a flora intestinal influencia a eficácia?

Uma vez que a flora intestinal tem a capacidade de influenciar o sistema imunitário, um grupo de investigadores estudou se a mesma pode influenciar o sucesso da imunoterapia.

Este trabalho rastreou o progresso no tratamento de 113 doentes com melanoma metastático, tendo sido considerado a dieta, a medicação e o uso de suplementos. Foram, ainda, analisadas amostras fecais dos participantes, de modo a ser traçado o perfil relativo à flora intestinal de cada doente.

Os autores verificaram que os indivíduos que tomavam probióticos sem receita médica (42% dos participantes) tinham 70% menos probabilidade de responder à imunoterapia com inibidores de checkpoint anti-PD1. Além disso, os investigadores verificaram uma relação entre os probióticos e uma menor diversidade da flora intestinal, a qual a ciência já tinha verificado em doentes que respondem pior à imunoterapia.

Imunoterapia: a alimentação na eficácia do tratamento

As escolhas alimentares também parecem ter um impacto importante. Os indivíduos com história de ingestão de uma dieta rica em fibra tiveram cinco vezes mais probabilidade de responder à imunoterapia e apresentaram mais bactérias relacionadas com uma resposta positiva. Por outro lado, os doentes que praticavam uma alimentação rica em açúcar e em carne processada apresentaram uma menor quantidade dessas bactérias.

Imunoterapia: aumentar a eficácia do tratamento

Assim, este estudo pode explicar, em parte, a razão de alguns cancros não responderem à imunoterapia, sugerindo que alguns fatores dietéticos (suplementos com probióticos e alimentação) podem ter impacto no sucesso do tratamento. O aumento da eficácia da imunoterapia pode não passar apenas por estes fatores, mas este estudo mostra que a dieta tem um papel importante na resposta à imunoterapia, através da flora intestinal.

Enquanto aguardamos por mais estudos, a importância de uma alimentação rica em fibras, com cereais integrais e hortofrutícolas deve continuar a ser reforçada.

Referências: “The gut microbiome (GM) and immunotherapy response are influenced by host lifestyle factors” – Apresentação efetuada na reunião anual da American Association for Cancer Research, de 29 de março a 3 de abril de 2019, em Atlanta, disponível em https://www.parkerici.org/2019/04/02/probiotics-linked-to-poorer-response-to-cancer-immunotherapy-in-skin-cancer-patients/ e acedido a 2/5/2019; Guia Imuno-Oncologia, disponível em http://www.oncomais.pt/guia-imuno-oncologia e acedido a 2/5/2019; Palm et al., Immune-microbiota interactions in health and disease. Clin Immunol. 2015; 159(2): 122-7. Fontes de imagens: https://www.vencerocancer.org.br/cancer/noticias/imunoterapia-resultados-obtidos-ate-agora-deixem-especialistas-otimistas/; https://www.medscape.com/viewarticle/888146

Dina Raquel João é Nutricionista e Mestre em Nutrição Clínica, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas (nº 0204N), com o Título de Especialista para a área de Terapia a Reabilitação da Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação, subárea da Nutrição, tendo desenvolvido a sua atividade profissional principalmente na prática clínica, na docência e formação e na investigação. Como Nutricionista, iniciou atividade clínica em 2001, tendo exercido a nível hospitalar, em centro de saúde e em clínica privada. A experiência profissional na área da investigação decorreu, essencialmente, na área oncológica, tendo sido premiada nesse campo (1º Prémio de Nutrição Clínica da Fresenius Kabi, em 2002). Conta com diversas comunicações científicas orais e em painel, tanto em eventos nacionais como internacionais. Atualmente, é Professora Adjunta Convidada na Universidade do Algarve – Escola Superior de Saúde, lecionando à licenciatura em Dietética e Nutrição.